Lucymar Soares
Curso - Jornalismo/2008
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Com 85 min em DVD, o documentário “Nascidos em Bordéis”, de Zana Briski e Ross Kauffman, mostra a realidade do bairro da Luz Vermelha em Calcutá que mesmo com o crescimento da Índia, a vida nessa parte da cidade é constituída de pobreza e prostituição.
Esses dois agravantes deixam sem sonho as crianças e adolescentes que vivem amargando à única certeza que lhes são apresentadas, à prostituição como meio de sobrevivência.
As documentaristas, através da fotografia, iniciam um trabalho social naquele bairro, levando esperança de uma vida melhor, com a possibilidade de sonhar com um futuro diferente. Sendo possível estudar e ter uma profissão.
O trabalho das cineastas com aquelas crianças, consistia em motivá-las a arte da fotografia, para que através desse movimento seja despertado nelas o desejo de visualizar uma vida digna. Mostrando para as mesmas que elas são capazes e que é possível construir uma outra realidade.
O que me chamou a atenção nesse documentário foi o registro passo a passo “in loco” das ações desenvolvidas com as crianças. Tipo o passeio na praia, todos com as câmaras fotográficas, a busca das documentações necessárias para o possível ingresso das mesmas em escolas internatos, o dia a dia no bairro, as relações entre as famílias e vasinhos e o entrosamento das crianças com outras crianças. Elas registraram o real. Captaram a vida como ela é.
Assim como o bairro da “Luz Vermelha” é uma realidade, em outras periferias também milhares de crianças e adolescentes vivem em situação semelhante. O que falta são pessoas com a visão que Zana e Ross tiveram em usar o que elas provavelmente sabiam muito bem, a fotografia, para implantar ali, no meio do caos, uma luz, forte o suficiente para atrair àqueles que desejam um viver contrario e que almejam conhecer outras realidades que sejam bem diferentes daquelas que Calcutá, no bairro da Luz Vermelha lhes oferecia.
O método utilizado foi bastante sugestivo e criativo. Era preciso aplicar uma técnica que pudesse despertar naquelas crianças, já tão envolvidas na promiscuidade, daquele meio onde vive, o interesse. Pois só assim haveria possibilidade de envolvê-las no programa. E a idéia de utilizar as câmaras fotográficas de forma que cada uma delas podem ter acesso, foi o segredo. Normalmente crianças são curiosas e gostam de novidades. Ao mesmo tempo em que elas usavam as câmaras como brinquedos, usavam na com seriedade, pois havia um projeto da exposição destas fotos e da venda das mesmas.
Sinceramente, mais impressionante que o documentário em si, foi à ideia desse trabalho social das documentaristas.
Esse documentário registrou a ação de duas pessoas que com muita sabedoria e comprometimento filantrópico, estão mostrando não só àquelas crianças, ao bairro da Luz Vermelha, a Calcutá, a Índia, mas a todo o mundo, que é possível criar esperança, mesmo quando a cruel realidade insiste em dizer que não tem mais jeito.