De acordo com novo estudo, a
doença estaria ligada a um único gene, que elimina sinapses excessivamente.
POR Ana Luísa Fernandes
Pesquisadores da Universidade de
Harvard podem, finalmente, ter descoberto o processo biológico que resulta na
esquizofrenia. Eles analisaram quase 65 mil pessoas para decifrar
quais traços genéticos estão associados mais fortemente à doença.
O principal fator que promove os
sintomas da esquizofrenia é um fenômeno chamado poda sináptica, que, como
o nome diz, corta as sinapses (comunicação entre os neurônios) com o
objetivo de eliminar células estranhas ou pouco utilizadas. É como
uma limpeza neurológica - e os cientistas descobriram o gene
responsável por uma disfunção nessa atividade, que faz com que as podas
sejam excessivas.
A esquizofrenia é uma
doença que geralmente aparece no fim da adolescência e no começo da vida
adulta, estando relacionada à fatores genéticos. Ela causa instabilidade emocional,
alucinações e disfunção cognitiva. Essa diminuição das sinapses é comum,
mas, no caso dos esquizôfrenicos, ela é extrema, a ponto de reduzir o
volume da massa cinzenta e de prejudicar as regiões do cérebro ligadas ao
controle emocional. Apesar de os médicos conhecerem esse mecanismo há muito
tempo, pouco se sabia as suas causas.
Entre as quase 65 mil
pessoas analisadas, 28.799 eram esquizôfrenicas e 35.896 não eram. Os
cientistas começaram a pesquisa focando
na região MHC do genoma humano essencial para o sistema imunológico,
por ser capaz de reconhecer moléculas estranhas em boa parte dos vertebrados.
Essa região já tinha sido ligada à esquizofrenia em estudos anteriores.
Dentro do MHC, eles
encontraram uma forte relação entre o desenvolvimento da doença e a
presença de uma variação do gene C4. Esse gene, que existe em diversas
formas, codifica duas proteínas: a C4A e a C4B. As variações do C4 que
resultavam em uma expressão maior da C4A foram associadas ao transtorno. As
duas proteínas ativados pelo gene C4 ativam uma outra, a C3, que "marca" algumas
células no cérebro e na medula espinhal, para que elas sejam destruídas
pelo sistema imunológico. Quando a C3 se liga às sinapses, elas são eliminadas,
e então ocorre apoda sináptica. Só que quando é a C4A que ativa a C3,
as podas são realizadas em excesso.
Por que a C4A causa esse
problema ainda é uma pergunta sem resposta. Mas já é um começo para a
elaboração de novas terapias que podem ajudar as pessoas esquizofrênicas.
"Nós estamos muito empolgados e orgulhosos desse trabalho, mas eu não
estarei pronto para dizer que fomos vitoriosos até que tenhamos alguma coisa
que ajude os pacientes", disse o pesquisador Eric S. Lander.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Participe, opine, colabore, construa. Faça parte desse "universo".