POR MARIA LUCIANA RINCÓN
Já aconteceu com você de
encontrar com alguém e, apesar de esse sujeito saber o seu nome, aparentemente
conhecer as mesmas pessoas e inclusive mencionar algum evento recente, você não
fazer a menor ideia de quem ele seja?
Esse tipo de situação é
bastante constrangedora e incrivelmente comum — e geralmente acontece quando
encontramos com conhecidos em lugares fora de um contexto habitual, como
tropeçar com um colega de trabalho na farmácia, por exemplo. No entanto, se
isso costuma acontecer com você com muita frequência, pode ser que não se trate
de uma confusão passageira...
Prosopagnosia
Nós aqui do Mega Curioso já
falamos brevemente em uma matéria — que você pode acessar através deste link —
a respeito da Prosopagnosia, um problema também conhecido como “cegueira para
faces”. O transtorno se caracteriza pela dificuldade ou completa incapacidade
de reconhecer rostos, e não pense que quem sofre com esse problema simplesmente
se esquece das feições de conhecidos ou se confunde de vez em quando.
Dependendo da severidade de
cada caso, os indivíduos com prosopagnosia chegam a ter dificuldade para
reconhecer familiares e até mesmo os próprios rostos. Segundo Richard Cook e
Federica Biotti, em um artigo publicado pelo portal The Conversation, até
recentemente existia a crença de que a cegueira para faces consistia em um
problema extremamente raro e decorrente de lesões cerebrais associadas a
derrames, traumas e doenças degenerativas.
No entanto, estudos recentes
revelaram que, na verdade, a prosopagnosia é altamente hereditária e muito mais
comum do que se pensava. Tanto que uma em cada 50 pessoas no mundo apresenta
alguma forma do problema, e algumas celebridades confessaram que sofrem com a
cegueira para faces, como é o caso de Steve Wozniak, co-fundador da Apple, e do
ator Brad Pitt.
Cegueira facial
De acordo com os
especialistas, o problema é que, nos casos mais severos, a prosopagnosia
congênita pode desencadear o surgimento de outros transtornos, como a depressão
e a ansiedade. Afinal, imagine a sensação de andar por aí e não ser capaz de
reconhecer o rosto de ninguém, mesmo o das pessoas mais próximas!
Além disso, como se trata de
um problema que muitas vezes demora em ser diagnosticado, os indivíduos que
sofrem de cegueira facial frequentemente se sentem culpados por não reconhecer
os outros, e é comum que eles atribuam a dificuldade à falta de atenção e à
memória ruim. Para piorar, infelizmente, há quem — erroneamente — associe o
problema com a falta de inteligência.
Com isso, muitos dos
afetados pela cegueira facial evitam situações potencialmente desafiadoras,
como encontros e reuniões sociais. Sem falar que o problema pode inclusive
influenciar as escolhas e as profissões dos indivíduos que sofrem de
prosopagnosia — que muitas vezes optam por seguir atividades nas quais eles não
precisem ter contato direto com ninguém.
Diagnóstico
Segundo os especialistas, a
Ciência apenas está começando a entender a prosopagnosia congênita, e as causas
do problema da ainda não foram descobertas. Mas, alguns estudos apontaram
algumas diferenças sutis no funcionamento cerebral das pessoas que sofrem com o
problema.
Conforme explicaram, nesses
indivíduos, várias áreas do cérebro envolvidas no reconhecimento facial parecem
contar com menos conexões do que o normal. Além disso, pesquisas apontaram que,
aparentemente, existe uma maior incidência de cegueira para faces entre as
pessoas que sofrem de autismo.
O diagnóstico, até bem
recentemente, era realizado a partir de testes feitos por computador baseados
no reconhecimento facial. No entanto, um novo método foi desenvolvido por
pesquisadores britânicos, e ele se apoia em um questionário com uma série de
perguntas que exploram as experiências dos afetados.
Convivendo com a
prosopagnosia
De acordo com os
especialistas, assim como acontece com quem sofrem de dislexia — ou,
basicamente, a dificuldade específica para o aprendizado da linguagem —, que
cresce com problemas para ler palavras, os que padecem com a prosopagnosia
congênita crescem com problemas para ler rostos. Portanto, tal como ocorre com
os disléxicos, os afetados pela cegueira facial precisam encontrar formas alternativas
de contornar suas dificuldades.
Assim, muitas pessoas
diagnosticadas com a prosopagnosia aprendem a reconhecer os outros a partir de
características específicas, como um traço facial marcante — como lábios
carnudos ou um nariz avantajado —, o tom de voz, a forma de caminhar, o estilo
de se vestir ou o corte de cabelo, por exemplo.
Por esse motivo, ambientes
nos quais as pessoas se vestem de maneira similar — como locais de trabalho ou
colégios onde todos usam uniformes — costumam ser um pesadelo para quem sofre
de prosopagnosia. Além disso, se algum conhecido resolve mudar o penteado ou
adotar o uso de boné sem aviso prévio, a mudança pode trazer dificuldades.
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