A tragédia grega atualizada na voz e no corpo de uma mulher negra. Medeia Negra é um grito, épico, lírico e musical. A releitura traz a personagem trágica em um corpo bárbaro, atemporal, negro e sua relação com a versão mais conhecida do mito, do trágico Eurípides. Medeia representa as mães ancestrais que expressam a morte como transformação e reconstrução e não como o fim da vida.
Nesta montagem, o mito grego é revisitado pelo processo de descolonização do pensamento patriarcal e, através dele, questiona o condicionamento social que marginaliza, julga e condena corpos considerados inadequados, estrangeiros, estranhos.
Medeia Negra é o mais novo espetáculo do grupo Vilavox, primeiro solo da atriz Márcia Limma, com direção de Tânia Farias (Oi Nóis Aqui Traveiz/RS) e dramaturgia de Marcio Marciano (Coletivo de Teatro Alfenim/PB) e Daniel Arcades (Grupo NATA – Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas/BA).
A peça constrói uma narrativa em que o público é convidado a cada cena a refletir e se posicionar diante das provocações da personagem. A musicalidade das cenas constrói imagens que conduzem o espectador em uma viagem entre diferentes Medeias. A Medeia Negra transborda o interior de uma mulher negra, trazendo à tona os encarceramentos emocionais vividos durante a formação da personalidade e da psique desse feminino.
Mulheres Encarceradas – Ao longo do processo de pesquisa, a artista se aproximou do grupo de extensão Corpos indóceis e Mentes Livres, liderado pela Professora Doutora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Denise Carrascosa, participando das atividades e oficinas realizadas no Conjunto Penal Feminino. O contato com mulheres encarceradas aprofundou a compreensão do arquétipo de Medeia, e contribuiu para que a obra refletisse a condição de mulheres que romperam com diferentes níveis de prisões políticas, históricas e sociais.
“As experiências que vivi com elas estão organizadas em uma carta com nossas sensações e desejos. Elas escreveram cartas para Medeia e eu tento responder a elas em uma carta que pra mim é a síntese do nosso laço, da nossa irmandade, das nossas confissões”, acrescenta Márcia. O espetáculo faz parte da pesquisa da criadora no Mestrado em Artes Cênicas na UFBA.
SERVIÇO
Medeia Negra
Quando: 2, 3, 4, 9, 10 e 11 de novembro (sexta a domingo), 20h
Onde: Sala do Coro do Teatro Castro Alves
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia)
Classificação indicativa: 16 anos