A capa
do livro Des Destinées de l'ame
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Descoberta surpreendente traz ainda mais
detalhes: a pele utilizada era das costas de uma mulher Atualmente, a maioria das capas de
livros é feita de papel, geralmente mais grosso do que as folhas, mas de
material proveniente da celulose ou mesmo reciclado. Os livros com capas de
couro (real ou sintético) são reservados apenas para edições especiais.
No entanto, antigamente, muitos livros
tinham capas revestidas de couro, que era normalmente retirado de animais
bovinos, cabras e carneiros ou até de humanos! Sim, já foi descoberta a
existência de alguns exemplares de livros que tinham a caparevestida
com pele de pessoas. Mas são poucos itens como esse pelo mundo. Um desses livros já havia sido
descoberto pelos especialistas de Harvard, mas só agora eles confirmaram de
fato que realmente se trata de uma capa feita com pele humana, mais
especificamente retirada das costas de uma mulher.
Eternizando a pele em cultura
Segundo o The Verge, na semana passada, um dos curadores da pesquisa
de Harvard anunciou que foram realizadas diversas análises em um livro
intitulado Des Destinées de l'ame (Os Destinos da Alma), do
escritor francês Arsène Houssaye, que foi publicado em algum momento da
década de 1880. Com isso, eles confirmaram com 99,9 % de certeza que ele tem a
capa feita com pele humana.
O livro, que está no arquivo da
Biblioteca Houghton de Harvard desde 1930, foi dado pelo autor a seu amigo
médico Ludovic Bouland, que o encadernou com a pele. O exemplar tem
uma anotação interna de Ludovic, que explica um pouco sobre isso. O recado diz:
"Este livro é encadernado em
pergaminho de pele humana em que nenhum ornamento foi carimbado para preservar
a sua elegância. Ao olhar cuidadosamente, é possível distinguir facilmente os
poros da pele. Um livro sobre a alma humana merecia ter uma capa humana: eu
tinha mantido este pedaço de pele humana retirado das costas de uma mulher.
É interessante ver os diferentes
aspectos que mudam a pele de acordo com o método de preparação a qual ela é
submetida. Compare, por exemplo, com o pequeno volume que tenho em minha
biblioteca, Sever. Pinaeus de Virginitatis notis, que também está encapado com
pele humana, mas curtido com sumagre*".
*sumagre é uma especiaria que era muito
utilizada antigamente como corante para couro.
Prática não tão bizarra na época
Pode parecer um tanto estranho para nós,
mas a prática de produzir livros encapados com a pele humana não era realmente
tão incomum no passado e ela remonta desde o século 15, de acordo com os
curadores de Harvard. Conhecida como encapamento
antropodérmico, muitas pessoas aparentemente utilizavam a prática para lembrar
os mortos. Outro motivo comum era utilizar a pele de cadáveres dissecados em
aulas de anatomia para encapar os próprios livros sobre o assunto. Dessa forma,
o morto indigente tinha mil e uma utilidades para a ciência e a literatura.
Olha só que honra.
Uma
visão mais aproximada
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Voltando ao proprietário do Des
Destinées de l'ame, os pesquisadores acham que ele possa ter conseguido a pele
de uma mulher doente mental, cujo corpo nunca foi reclamado (pela família ou
conhecidos) depois de morrer de um acidente vascular cerebral. O outro livro
que ele menciona na anotação acima está na coleção da Biblioteca Wellcome.
Confirmação atual
Como foi dito anteriormente, os
pesquisadores de Harvard já tinham conhecimento sobre a suposta origem do livro
há algum tempo, mas só agora confirmaram. Para investigar a origem do couro da
capa, eles utilizaram um processo de identificação de proteínas, através dos
peptídeos, para saber de que animal ele teria vindo — análise conhecida como
impressão digital de peptídeos.
Isso lhes permitiu descartar quase todos
os possíveis donos do couro (bovinos, caprinos, ovinos), exceto alguns
primatas. Ali eles viram que as anotações do proprietário do livro talvez não
fossem nenhuma brincadeira. Com isso, as amostras foram analisadas mais uma vez
para ver como os peptídeos haviam sido formados, o que permitiu aos pesquisadores
descartar todas as outras possibilidades, menos a da origem humana da capa.
"Os dados da análise, em conjunto
com a proveniência de Des Destinées de l'ame, tornou muito pouco provável
de que a origem poderia ser diferente da humana”, disse Bill Lane, diretor de
Espectrometria de Massa e do Laboratório de Recursos Proteômicos, à biblioteca
de Harvard.
Para fascinação ou estranhamento geral
do público, o Des Destinées de l'ame é agora o único livro conhecido
por ser encapado com pele humana em todas as bibliotecas de Harvard. Dois
outros livros foram previamente creditados dessa forma, mas ambos já foram
confirmados como sendo encadernados em pele de carneiro.
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