O sociólogo e doutorando da Universidade
Federal da Bahia, Antônio Mateus Soares, avaliou, em entrevista ao Bahia
Notícias, as manifestações que invadiram Salvador e centenas de cidades do país
desde o início da Copa das Confederações.
Em sua avaliação, a legenda que
comanda a República e o Estado baiano sai dos protestos como principal
prejudicada. "Como o PT é o partido do poder, ele foi o maior maculado e
de forma legítima", analisou, ao complementar: "Essa política de
geração de miséria do PT está com os dias contados". Para Soares, o
próprio discurso de "abertura de diálogo" do governador Jaques Wagner
com os manifestantes foi o “a, e, i, o, u” da sociologia para marcar ponto com
o eleitorado. "Ele deve ter tomado consultoria com algum sociólogo",
apontou. Embora chame a ex-senadora Marina Silva de "preconceituosa",
ele acredita que a ex-petista poderá ser a maior beneficiada com as
mobilizações em 2014. “Tudo de mau que vem ao PT se torna capital social para
Marina e amplia o poder dela”, comparou.
Para o docente, o que muitos enxergam
apenas como arruaça, deve ser estudado e visto por outros ângulos, ao pontuar
que a Polícia Militar ainda sofre ranços da época da ditadura. "A polícia
continua sendo ostensiva, brutalizada e não é preparada para esse tipo de ação.
Sobretudo a polícia baiana, que é 80% despreparada para essas ações. E tem
outra coisa, no momento em que a civilidade é negada à população, a
brutalização ganha espaço", salientou.
O sociólogo cita a afirmação do
filósofo Michel Foucault, para quem “as políticas neoliberais em um país como o
Brasil só apontam para uma única diretriz: a barbárie”, como fundamentação à
sua tese de que a lógica do mundo neoliberal do “deixar viver e fazer morrer”
contribui com a fúria das massas. "Vamos dar uma bolsa e deixar viver, mas
vamos deixar morrer sem saúde de qualidade, sem educação. Eu participei de um
projeto da Unesco e visitei 60 escolas públicas em um período de seis meses e
elas possuíam uma estrutura física desumanizadora, e hoje, cinco anos depois,
nada mudou. Isso é que vandalismo", exemplificou.
Bahia
Notícias - Vivemos um momento de tensão
com o Movimento Passe Livre, com milhares de pessoas nas ruas, Copa das
Confederações, e ninguém entende o que de fato acontece. O foco inicial, que
era a tarifa, aqui em Salvador não teve aumento e surgiram outras diversas
reivindicações. Como podemos classificar o movimento?
Antônio Mateus - Na verdade, este momento foi o mais adequado para surgir manifestações dessas – e falo no plural porque é uma manifestação heterogênea – porque o mundo todo está voltado para o país por conta da Copa das Confederações. A manifestação não tem uma única bandeira. Os manifestantes buscam o direito a ter direitos, e Hanna Arendt fala justamente disso, porque no momento em que a sociedade civil, organizada ou não organizada, se institui como detentora de direitos e passa a lutar por esses direitos, uma manifestação irrompe os palcos urbanos e ganha notoriedade. É o que está acontecendo no Brasil. Essas manifestações têm um perfil de participante diferenciado. Existe uma participação de uma parcela maior da classe média. Inclusive existe mais gente da classe média agora do que na época das Diretas Já. Essa classe média que surgiu nos últimos anos no Brasil é menos alienada do que as classes mais abastadas e mais ainda do que as menos abastadas que ela. Ela tem uma consciência crítica mais aguçada e começa a lutar por aqueles direitos que lhe falta. A grande bandeira da manifestação, inclusive a que mais é mostrada pela mídia, é a questão dos transportes, mas a gente sabe que não é só isso. Isso é a ponta do iceberg de uma série de insatisfações. Há, com essas manifestações, uma clara validação da democracia brasileira e do conceito de política, porque a política se faz pelo dissenso e a sociedade brasileira está de parabéns.
Veja
entrevista completa aqui:
http://www.bahianoticias.com.br/principal/entrevista/310-antonio-mateus-soares.html
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