Engana-se quem pensa que a menopausa é o fim da linha para mulheres que querem engravidar. Com o avanço da ciência, é possível adiar a gestação, uma vez que, com a fertilização in vitro, utilizando óvulos de uma doadora, a tão sonhada gravidez pode acontecer após os 50 anos. Mas é preciso tomar cuidados extras, já que esta é considerada uma gravidez de risco.
De acordo com especialistas, a menopausa pode acontecer dos 45 (precoce) até os 55 anos (tardia), e é considerada o período fisiológico após a última menstruação espontânea da mulher, em que estão encerrados os ciclos menstruais e ovulatórios. O início da menopausa só pode ser considerado após um ano do último fluxo menstrual, pois, durante esse intervalo, a mulher pode, ocasionalmente, menstruar.
Essa fase que antecede a menopausa, em que pode ocorrer a menstruação e até a gravidez, é chamada de climatério. “A menopausa corresponde à parada da menstruação, muitas vezes confundida com o climatério, período de transição entre a fase fértil para o período não reprodutivo da mulher”, esclarece Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein.
“Não é possível engravidar na menopausa espontaneamente, apenas com auxílio de reprodução assistida. No climatério, sim. Durante essa transição, há uma redução na produção de hormônios e na função dos ovários, mas a mulher, mesmo apresentando com frequência irregularidade menstrual, pode ovular e, assim, engravidar”, completa o médico.
Uma gravidez na menopausa é considerada tardia e, mesmo que planejada, envolve mais cuidados do que uma gestação até os 35 anos. Ela apresenta mais riscos e preocupações por parte médica, pois se entende que a saúde da mulher encontra-se em declínio, o que exige, por conta desta condição especial, o acompanhamento muito mais criterioso e intensivo, principalmente se a mulher já apresentar algum problema de saúde.
Atenta aos sinais
Mesmo a chance sendo pequena - 5% ao mês - de engravidar naturalmente durante o climatério, é preciso ficar atenta aos sinais. Os sintomas da gravidez na pré-menopausa são os mesmos de uma gravidez em qualquer outra fase da vida, porém, devido à ausência da menstruação, ela pode ser percebida tardiamente, então, é importante que a mulher sempre fique atenta aos sinais, como sensibilidade nas mamas, irritação e dor pélvica.
“No climatério, alguns sintomas costumam aparecer. É frequente que as mulheres apresentem cansaço, alterações de humor e distúrbios no ciclo menstrual, como intervalos longos entre uma e outra menstruação. Desta forma, esses sintomas podem ser confundidos com os apresentados inicialmente na gestação e, assim, atrasar o diagnóstico de uma gestação”, diz Eduardo Zlotnik, ginecologista e obstetra do Hospital Israelita Albert Einstein.
“As mulheres que não estão em uso de nenhum método contraceptivo têm de suspeitar de gravidez nos episódios de atraso menstrual. Além disso, é importante ter um acompanhamento ginecológico adequado para auxiliar neste diagnóstico”, completa.
Saúde em dia
Cláudia Gomes, médica especialista em reprodução humana do Grupo Huntington, explica que, para uma gravidez com menos risco de complicação, a mulher deve estar com a saúde em dia - alimentação balanceada, peso ideal e atividades físicas regulares. Se houver algum problema de saúde, este deve ser avaliado e controlado adequadamente.
Também deve-se realizar um pré-natal específico para gestações de maior risco, com consultas médicas mais frequentes e realização de exames e aferição da pressão. É fundamental ainda a suplementação de vitaminas com ácido fólico e ferro. “Para a mulher, há risco aumentado de abortamentos e de desenvolver pressão alta e diabetes durante a gestação, e esses dois fatores podem tornar necessário antecipar o parto, levando ao nascimento de uma criança prematura. Essas doenças podem persistir após o parto, dependendo de fatores familiares e do ganho de peso da mulher”, explica Cláudia.
Ainda de acordo com a especialista, para a criança os riscos são o nascimento prematuro e suas sequelas - baixo peso ao nascimento e maior risco de nascimento de crianças com síndromes genéticas em decorrência de alterações numéricas nos cromossomos relacionadas ao envelhecimento do óvulo. Alguns especialistas alertam que mulheres após os 40 anos de idade têm mais de 80% de chance de gerar um bebê com síndrome de Down.
Se já passou dos 35...
O fato da mulher conseguir gerar um bebê, não importa a idade, é porque, ao contrário do óvulo, o útero não envelhece. Mesmo assim, o ginecologista, obstetra e presidente da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp) - regional Rio Preto, José Luis Crivellin, explica que o ideal é que a mulher possa engravidar antes dos 35 anos de idade, pois os riscos maternos e fetais são menores.
“Para qualquer idade, recomenda-se que a mulher comece a tomar ácido fólico, no mínimo 30 dias antes que ocorra a gravidez, suplementa-ção de vitamina D, quando necessário, e, principalmente nas mulheres acima dos 35 anos de idade, polivitamínicos para diminuir radicais livres, além de uma dieta saudável, se possível, livre de agrotóxicos, de preferência com alimentos orgânicos e com a prática de exercícios físicos regularmente, abstinência de álcool, cigarro e outras drogas, durante a gravidez.”
Devido a todos os problemas, o Conselho Federal de Medicina aprovou no ano passado uma norma que limita a fertilização para mulheres acima dos 50 anos, por risco à saúde durante a gravidez. Algumas mulheres se manifestaram contra. Acreditam que estão impondo uma decisão que só caberia a elas decidir. É possível recorrer na Justiça, mas para o CFM a idade limite é 50 anos.
Paciência de avó, rigidez de mãe
Em 2013, quando o Conselho Federal de Medicina divulgou as novas regras para se realizar reprodução assistida, a atriz Solange Couto, que foi mãe de maneira natural aos 54 anos, deu um depoimento à revista Marie Claire. “Tive filhos em três fases diferentes da minha vida: aos 17, aos 35 e aos 54 anos. Na primeira vez, eu era uma menina. Na segunda, já estava mais organizada, mas ainda havia pouco tempo para me dedicar. Hoje, tenho uma vida plena, uma tranquilidade e um olhar diferentes do que eu tinha com os outros bebês.
Isso vem com a maturidade. Costumo dizer que tenho paciência de avó, com a rigidez de uma mãe. Não tive medo por engravidar nesta idade, apenas os receios comuns de toda grávida. Quando fiz o exame e vi que ele estava bem, fiquei tranquila e curti o nascimento. (…) Vá ao encontro da sua felicidade, lute por essa maternidade renovada da forma que for. Tenha seu filho, sim. Se não for naturalmente, adote, mas lute”
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