Outubro chegou com uma doce noticia: o
centenário de Vinícius de Moraes no dia 19. Enumerações de ofícios são
dispensáveis em se tratando deste carioca universal que fez da paixão sua
matéria de vida e poesia e tornou-se um gigante das letras e da música carregando
o diminutivo de poetinha.
Entre 1913, ano do seu nascimento e 1980, ano
da sua partida, lá se foram 67 anos de lidar com a fútil e bela argamassa da
literatura dos clássicos, que estudou com afinco e a rude e noturna paisagem de
álcool, fumaça e poesia em escuros botecos. No meio, as mulheres, esses seres
insufladores tanto de sonetos exatos como de versos livres que desafiam a
imaginação dos vates com a concretude das suas volumosas geografias – do corpo
e da alma - por onde as naves da poesia de Vinicius navegaram com a maestria de
um capitão de longo curso. Mulheres, amantes, esposas, modelos vivos de um
pintor de palavras apaixonadas que perduram ao passar do tempo, belas, sensuais
ou tristes e cheias de saudades no quotidiano de qualquer cidade ou na esquina
mais remota de um coração suburbano.
Vinícius, como uma eterna primavera, retorna
inteiro neste seu primeiro centenário com sua imprescindível revolução do amor
e da simplicidade, suave como uma bossa nova, inquieto como um afro-samba, transparente
como uma aquarela de Toquinho. Nestes tempos de cobiça financeira desenfreada,
em que não há mais tempo para cantar baixinho no ouvido de ninguém, evocar
Vinícius se torna tão necessário quanto saudável. Porque lembrar apenas uma
única nota de uma parceria, por exemplo, com Tom é como uma gota de água
cristalina, um oásis de música no deserto da industrialização dos ruídos de
moda.
Parodiando o titulo do CD que Maria Bethânia
gravou com músicas de Vinícius (“Que falta você me faz”) a relembrança do poeta
da paixão faz jus a este sentimento de orfandade no qual navegamos, à deriva,
há tantos anos. Com Vinícius revigoramos nosso lado humano, nosso lado
apaixonado e sem limites onde a tristeza não tem fim e a felicidade - porque
humana - sim.
Carlos Pronzato
Poeta e cineasta/documentarista
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