Papai e mamãe, vovô e
vovó não sabem tudo. Pior: muitos de seus ensinamentos inquestionáveis, usados
ao longo de décadas para calar inquietações de seus rebentos, não passam de
pura bobagem quando examinados sob a luz das estatísticas e da ciência.
É o que demonstra, com humor e ironia, o livro "Because I
Said So!" (algo como "porque sim" ou "porque eu
disse"), que traz o subtítulo "The Truth Behind the Miths, Tales
& Warnings Every Generation Passes Down to its Kids" (a verdade por
trás dos mitos, histórias e advertências que cada geração transmite a suas
crianças).
O autor não é nenhum especialista em pedagogia; ao contrário, foi
o conhecimento de generalidades que alçou o engenheiro de software Ken Jennings
à categoria de celebridade instantânea.
Em 2004, ele ganhou 74
jogos do programa televisivo de perguntas e respostas "Jeopardy!",
faturando US$ 2,52 milhões (mais de R$ 5 milhões), prêmio recorde nesse tipo de
programa. De lá para cá, lançou dois livros sobre esses jogos e uma obra sobre
geografia. Em dezembro último, chegou às lojas dos EUA (e à internet) o
"Because I Said So", ainda sem previsão de publicação no Brasil.
A inspiração veio de suas próprias atribuições como pai de um
garoto que gosta de correr pela casa chupando picolé. Numa dessas, gritou para
o menino: "Pare, você vai acabar cravando o palito na boca!". O
menino travou, assustado com a visão sanguinolenta, e disse: "É
mesmo?".
Jennings não sabia a resposta e foi perguntar à própria mãe se ela
se lembrava de algum acidente do gênero. Negativo, mas a mãe dela tinha dito
que... De onde ele concluiu que a educação das crianças "é um gigantesco
telefone sem fio que se arrasta pelas décadas". E resolveu examinar
axiomas transmitidos de pai para filho.
Compilou 125 desses ensinamentos e buscou provas científicas de
sua validade. Alguns são muito americanos, como "Não coma neve, vai fazer
mal" --pura bobagem, descobre ele. Mas o leitor brasileiro vai encontrar
frases ditas por seus pais e talvez repetidas por si próprio - a mim, caiu o
queixo descobrir que guardar pilhas no congelador não lhes aumenta em nada a
vida útil.
Pelo tom da escrita de Jennings - e pelo absurdo de algumas
ordens-, a leitura é leve e dá margens a sorrisos. Mas também há temas mais
pesados, como bullying.
Estatísticas de acidentes com crianças dão base a algumas
afirmações do autor, que também cita estudos do mundo todo. E conta ainda com
as descobertas de ganhadores do Prêmio Ig Nobel, paródia do Nobel que elege as
mais esdrúxulas pesquisas.
Mesmo assim, nem sempre consegue afirmar se um dito é
absolutamente verdadeiro ou falso. Afinal, muitas vezes as exceções são tantas
que se aproximam da regra. Por isso, criou um "verdadeirômetro", em
que relativiza seus vereditos: há afirmações basicamente falsas ou
principalmente verdadeiras. Enfim, o mundo é cheio de nuances e assim também é
a educação de nossas crianças.
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br
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