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domingo, 28 de abril de 2013

Por BEATRIZ ALESSI - RETRATOS DA REAL BELEZA



  
A cena é típica. Você encontra uma amiga que não vê há tempos, tasca-lhe um elogio e ela, mais que depressa, dá um jeito de neutralizar a gentileza: “Que nada! Meu cabelo está horrível!” ou então: “Nossa, esse vestido é tão velho, nem me serve mais direito...” Você tenta remediar a situação mas não insiste. Sabe que poucas são as mulheres que vestem um elogio com elegância e sem oferecer resistência.

Essa tendência de nos jogar para baixo fica ainda mais evidente na experiência conduzida pela marca Dove com o slogan “Você é mais bonita do que pensa”.

Sete mulheres tiveram seu retrato falado desenhado por um artista forense a partir da descrição feita por elas e por um estranho ou estranha. Sentado atrás de uma cortina, o artista, treinado pelo FBI, ouviu delas coisas do tipo “Meu queixo se projeta um pouco quando sorrio” e “Meu rosto é gordo e redondo”. Nenhuma se fez propriamente um elogio. A surpresa do experimento ficou por conta dos desconhecidos, encarregados de descrever mulheres com quem haviam passado apenas algumas horas. O retrato que pintaram delas é muito mais benevolente e preciso. São retratos da real beleza que elas não conseguem enxergar em si mesmas.

O vídeo da campanha virou hit na internet e logo ganhou uma paródia masculina com o slogan “Você é menos bonito do que pensa”.

A brincadeira só fez confirmar o que já se sabia: ser bonito não é uma “questão” para os homens.

Para nós, no entanto, fica uma certeza: quem precisa de inimigos quando as críticas mais severas vêm de nós mesmas? E como não ser cruéis conosco num mundo em que nosso valor está intrinsecamente associado ao atributo beleza? Não ser bela é o mesmo que ser barrada no baile da vida, uma carta fora do baralho.

A campanha de Dove em prol da autoestima feminina é um passo na direção certa. Porém, comete o equívoco de colocar a beleza como a medida de todas as coisas para as mulheres. A certa altura do vídeo, uma das retratadas diz: “Eu deveria ser mais grata pela minha beleza natural. Isso afeta as escolhas que faço, os empregos a que me candidato, o jeito de tratar os filhos”.

Beleza não é uma condição sine qua non da existência. Somos também – e principalmente – o resultado das nossas imperfeições. Mas é preciso reconhecer que o filme faz as mulheres se verem numa luz mais favorável e isso já é digno de aplausos.


* Beatriz Alessi é jornalista e cidadã do mundo, como a maioria dos mineiros. Contadora de histórias, acha que a vida de toda mulher daria um grande filme - ou pelo menos uma modesta crônica.


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