A cena é típica. Você encontra uma
amiga que não vê há tempos, tasca-lhe um elogio e ela, mais que depressa, dá um
jeito de neutralizar a gentileza: “Que nada! Meu cabelo está horrível!” ou
então: “Nossa, esse vestido é tão velho, nem me serve mais direito...” Você
tenta remediar a situação mas não insiste. Sabe que poucas são as mulheres que
vestem um elogio com elegância e sem oferecer resistência.
Essa tendência de nos jogar para
baixo fica ainda mais evidente na experiência conduzida pela marca Dove com o
slogan “Você é mais bonita do que pensa”.
Sete mulheres tiveram seu retrato
falado desenhado por um artista forense a partir da descrição feita por elas e
por um estranho ou estranha. Sentado atrás de uma cortina, o artista, treinado
pelo FBI, ouviu delas coisas do tipo “Meu queixo se projeta um pouco quando
sorrio” e “Meu rosto é gordo e redondo”. Nenhuma se fez propriamente um elogio.
A surpresa do experimento ficou por conta dos desconhecidos, encarregados de
descrever mulheres com quem haviam passado apenas algumas horas. O retrato que
pintaram delas é muito mais benevolente e preciso. São retratos da real beleza
que elas não conseguem enxergar em si mesmas.
O vídeo da campanha virou hit na
internet e logo ganhou uma paródia masculina com o slogan “Você é menos bonito
do que pensa”.
A brincadeira só fez confirmar o
que já se sabia: ser bonito não é uma “questão” para os homens.
Para nós, no entanto, fica uma
certeza: quem precisa de inimigos quando as críticas mais severas vêm de nós
mesmas? E como não ser cruéis conosco num mundo em que nosso valor está intrinsecamente
associado ao atributo beleza? Não ser bela é o mesmo que ser barrada no baile
da vida, uma carta fora do baralho.
A campanha de Dove em prol da
autoestima feminina é um passo na direção certa. Porém, comete o equívoco de
colocar a beleza como a medida de todas as coisas para as mulheres. A certa
altura do vídeo, uma das retratadas diz: “Eu deveria ser mais grata pela minha
beleza natural. Isso afeta as escolhas que faço, os empregos a que me
candidato, o jeito de tratar os filhos”.
Beleza não é uma condição sine qua
non da existência. Somos também – e principalmente – o resultado das nossas
imperfeições. Mas é preciso reconhecer que o filme faz as mulheres se verem
numa luz mais favorável e isso já é digno de aplausos.
* Beatriz Alessi é jornalista
e cidadã do mundo, como a maioria dos mineiros. Contadora de histórias, acha
que a vida de toda mulher daria um grande filme - ou pelo menos uma modesta
crônica.
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