Almir Tosta
Escritor e Pesquisador
O Cristianismo em sua origem
e essência se mantinha próximo de seus seguidores e fiéis. Jesus pregava o
Evangelho de maneira simples, exaltando os pobres e aqueles puros de coração.
Na Idade Média, o
distanciamento da Igreja do povo, se acentua de forma bastante significativa. O
sistema social se configurava de forma muito nítida, numa rígida divisão de
classes entre a nobreza, o clero e a plebe. A Igreja passou a ter
domínio, hegemonia e mais poder através de um poderoso instrumento de terror, o
mais hediondo da época: a Inquisição ou o Santo Ofício, que passou a desafiar e
competir poder com os Reinos e suas nobrezas.
A religião, com a Igreja distante
do povo, só se mantinha viva por conta dos princípios religiosos do Evangelho,
que eram transmitidos de pai para filho, na pureza dos ensinamentos cristãos.
O povo, oprimido por um regime
feudal perverso, vivia com medo e sob ameaça de um Tribunal, que podia
condená-los e levá-los à fogueira. O clero, regido por uma hierarquia
eclesiástica, vivia dos benefícios de um sistema que o protegia, mantendo-o
distante do povo, numa indiferença virtualmente egoísta.
A Igreja cresceu, constituiu sua
sede administrativa em Roma, fazendo surgir o poderoso Vaticano. Uma sucessão
de papas em muitos pontificados corruptos, tão poderosos quantos muitos reis e
imperadores, tendo exércitos de Cavaleiros Cruzados, de Templários e monges
guerreiros que combatiam e defendiam sob o aval e benção papal. Tornaram-se
verdadeiros monarcas em seus pontificados, cercados por um séquito de
ambiciosos cardeais, formando uma Corte de pompa com excessos de vaidades, com
seus luxuosos paramentos e suas reluzentes tiaras.
Foi mantido o ritual dos reis, com
respeitosas reverências e atitudes de pura obediência e vassalagens com os atos
do beija-mão. O Clero, mantendo-se sempre altaneiro, autossuficiente e
orgulhoso, num virtual narcisismo teológico, deu as costas para os fiéis,
adotou o latim na liturgia e afastando-os de vez, na condição de simples
mortais.
Assim, a Igreja atravessou séculos
de descaminhos.
A temível Inquisição, num termo
mais abrandado, tornou-se modernamente o Gabinete da Congregação para a Defesa
da Fé, tendo o Cardeal Ratzinger, sido o seu representante e
dirigente, onde a fogueira deixando de existir, foi substituída pela excomunhão
e imposição do silêncio, como aconteceu com o teólogo Leonardo Boff, principal
baluarte da Teologia da Libertação.
Com o novo papa Francisco,
recém-eleito, existe sinais e indicativos de mudanças. A princípio, se manteve
indiferente com certas tradições ou prerrogativas dos pontífices. Isso
denota um comportamento de quem quer se aproximar das comunidades de fiéis,
quebrando muitos paradigmas que afasta a Igreja de seus seguidores. Tem
atitudes simples, despojadas de vaidades e orgulhos.
Nos cumprimentos, a exemplo
da visita da nossa Presidente Dilma, se antecipou estendendo as mãos, evitando
a protocolar tradição do beijo no anel de Sua Santidade.
A Igreja, manchada com tantas
ocorrências, de casos de pedofilia, operações corruptas do Banco Ambrosiano e
no IOR, revelações de segredos do Vaticano, atingiu o limite possível dos
escândalos. Uma Cúria composta de tantas eminências pardas, que praticam
intrigas nos subterrâneos dos bastidores, precisa ser arejada e mudada.
É uma difícil tarefa para o
Pontificado de Francisco I, porém ele já demonstrou firmeza de propósitos e
atitudes determinadas ao confrontar um governo autoritário de uma ditadura,
quando Cardeal Arcebispo de Buenos Aires.
A impressão que já se percebe é que
o mundo católico dá boas vindas ao novo Papa e deposita nele as maiores
esperanças de renovação da Igreja.
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