Um especialista
acredita que as lojas desaparecerão no futuro. Mas elas já começaram a se
reinventar
Uma das grandes vantagens de ser jornalista é poder falar com
especialistas em qualquer assunto. Não importa qual área do conhecimento te
interessa: há sempre dezenas de americanos que dedicam sua vida àquilo e são
capazes responder a qualquer pergunta. Nas horas vagas, preveem o futuro. Falar
com eles costuma ser uma experiência enriquecedora, mas suas más notícias sobre
os anos vindouros podem aborrecer qualquer um.
A previsão mais perturbadora que ouvi de um entrevistado surgiu numa
conversa sobre livros digitais. O entrevistado era o americano Bob Stein,
presidente do Instituto para o Futuro do Livro. (Sim, podemos dormir
tranquilos: existe um instituto dedicado a isso.) Entre uma pergunta e outra
sobre os diferentes formatos de e-books, suas vantagens e desvantagens, Stein
comentou casualmente que as livrarias iriam acabar. Com o sucesso das vendas de
livros digitais e a adesão dos consumidores ao comércio eletrônico, elas tinham
se tornado inúteis.
Ao ouvir a previsão, engasguei. Stein percebeu do outro lado da linha e
hesitou por um instante. Era um momento inusitado. Repórteres costumam ficar
felizes quando um entrevistado diz uma frase de impacto. Ele logo percebeu que
esse não era o meu caso, e começou um esforço desajeitado para me consolar.
Reelaborou sua opinião de forma mais otimista, como se tentasse convencer uma
criança de que fadas existem, ou de que a mãe do Bambi não estava morta. A
frase publicada na minha reportagem acabou sendo esta: "As livrarias não
desaparecerão, mas deixarão de ser apenas pontos de venda." Eu não estava
pronto para acreditar na primeira frase, nem convencido o suficiente para
dividi-la com os leitores.
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