Valdeck Almeida de Jesus, em participação no
XI Parlamento de Escritores de Colombia, de 14 a 18 de agosto de 2013, em
Cartagena de las Indias.
Cartagena
de las Indias: uma viagem no tempo
Com tapete mágico, asas de gaivota ou uma
máquina de escrever que abre portais para mundos mágicos, ou mesmo a pé,
dormindo na rua, sendo picado por mosquitos... Estar na Porta do Caribe é abrir
o coração para emoções e viagens astrais que não se pode descrever.
Primeiro, o medo do desconhecido, de uma língua que não tem nada de
parecido com o Português. Segundo, o calor que sufoca a quem não está
acostumado com o clima caliente da cidade. Depois, a chegada, os sorrisos das
ruas, a pimenta da comida, o abraço de Joce Daniel, um dos organizadores do XI
Parlamento de Escritores de Colombia. Doce, carinhoso, atencioso, gentil, alma
de poeta. Dali em diante, o visitante não mais se sentiu órfão. Adotou, de
imediato, os companheiros de quarto: Diego Zambrano, Miguel Angel e Sebastian
Ufor. Também conheci Gustavo Tatis, Juan Vicente Gutierrez Magallanes, Gonzalo
Alvarino Montañez, Rogelio Expaña Vera, Roberto Montes Mathieu, Federico Luís
Baggini, Gladys Solangel Mendía de Gajardo, Fernando Cely Herrán, Laura María
Villarreal Rhenal e Wilbor Pérez Paternina.
Crachá de poeta pendurado no peito,
programação na mão, hora de cavar caminhos, desbravar emoções. Os dias foram
poucos e as noites idem. De praia a cerveja na madrugada, desejando ter as asas
de Cymar Gaivota para poder acompanhar os pelicanos pescando na orla da Avenida
Santander... Ouvir poesia em língua espanhola, com sotaques de Peru, Argentina,
Colômbia, Costa Rica, Cuba, Estados Unidos, Rusia... E, depois, o poeta teve
que baixar a crista para falar a língua dos homens e das mulheres da cidade.
Apresentação do livro “Memórias do Inferno Brasileiro”, leitura de poemas da
Revista ArtPoesia, improviso no portunhol em discurso a favor da democratização
da literatura. Na plateia, adultos e um mar de olhinhos atentos: crianças de
escolas públicas, em idade que ia dos oito aos oitenta. Que mais desejaria um
estrangeiro em terras distantes? Mesmo que os caminhos fossem cortados, que não
pudesse conhecer os Andes e a bela cidade de Tunja e outras cercanias, já
bastou aterrissar em Bogotá e mirar ao longe as luzes e o burburinho.
O bom,
mesmo, foi se perder em Cartagena, entrar em becos, vielas, barzinhos, igrejas,
praças e ruas acompanhado do som de uma flauta indígena e quatro pares de olhos
e ouvidos abertos e curiosos por tudo que se passava. Não tem mais o que se
fazer além de degustar ruas, paisagens, sotaques, cheiros e sonhos. Os contatos
com os demais escritores, por mais que tenham sido rápidos, foram efetivos e
serão duradouros. Que venha o XII Encontro de Escritores de Colombia, pois
minha mala já está pronta, aguardando o visto de entrada, quiçá de permanência,
pois da poesia ninguém escapa.
MENINO POETA
Valdeck Almeida de Jesus
Vejo uma criança de vinte anos
pulando pelos planetas
como se fossem bolas
enfileiradas ao redor
da Praça de Bolívar
em Cartagena de las Indias
Vejo um menino
brincando na chuva
para se proteger
da noite fria
que se aproxima
Vejo que as lágrimas
que choro por dentro
molham o chão e a rua
inundando meu ser
Vejo os acordes
de uma flauta indígena
cortando meu peito
e me dando adeus
Vejo a chuva parar
e a flauta agora
atrai os ouvidos
de todos ao redor
E me despeço
do menino-poeta
que voa pra longe
pois este menino
nasceu pra voar...
Cartagena de las Indias, 17 de
agosto de 2013
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