Angelo Romero
O título desta
matéria ficaria bem nos classificados dos principais jornais do Brasil, já que
nosso povo é, por tradição, desmemoriado em relação aos ídolos e grandes vultos
do passado, em todos os segmentos de nossa história: patrióticos, culturais e
artísticos. Certa ocasião, em conversa com Abelardo Romero, meu pai, poeta,
jornalista e historiador, perguntei a ele o porquê das pessoas idosas perderem
a memória, justamente elas, as que mais fatos registraram ao correr do tempo!
Seria em função da longevidade? Coincidentemente, também preocupado com o
assunto, Abelardo acabara de ler um livro escrito por um famoso cientista
estrangeiro, que versava justamente sobre o problema: “Perda da Memória”. Não
me lembro do título do livro e muito menos da nacionalidade e do nome do tal
cientista, pois minha memória já me trai.
Entretanto, o que
ouvi a respeito me surpreendeu e eu jamais esqueci. A perda da memória não está
relacionada, exclusivamente, à idade avançada. É um problema clínico que pode
afetar qualquer pessoa, independentemente da idade que possa ter. No entanto, e
aí vai a surpresa, no caso da pessoa idosa, a perda é bem mais frequente e
acentuada em função do desinteresse por certos aspectos da vida, a partir da
falta de perspectiva pelo futuro. O idoso passa a ser bem mais seletivo.
Justamente pelo acúmulo do armazenamento de fatos em seu cérebro,
acontecimentos e sonhos não realizados, vão fazendo com que ele perca o
interesse e esqueça. Ou seja: baseado em profundos estudos científicos, o autor
do livro garante que a falta de memória, no idoso, engloba 50% de problemas
clínicos e 50% de desinteresse. Exemplo: pergunte a um idoso, à noite, algo
sobre o passado remoto e o que ele consumiu no almoço daquele dia. De um fato
antigo ele se lembra, mas de um recente não. Simplesmente pelo fato de que não
lhe interessa lembrar o que ingeriu no almoço. No entanto, do passado,
raramente esquece. Datas talvez, mas o que ocorreu, nunca. Porque será que a
pessoa idosa esquece de tomar seus remédios? Porque sabe, que apesar da
importância, o remédio é para lhe manter viva. Se fosse para lhe devolver a
juventude perdida ela jamais esqueceria de tomá-lo.
O problema de falta
de memória para o brasileiro é agravado por um fator cultural. Façamos um
teste: apresente para um aluno de segundo grau, por exemplo, uma lista com
nomes que ajudaram a escrever nossa história, nos mais diversos segmentos e
pergunte se ele sabe dizer quem fez o que. Se nesta relação constar o nome de
um famoso jogador de futebol e o aluno for um apaixonado por nosso principal
esporte, talvez ele saiba responder. Mas se foi um herói, um escritor, um
cientista, um inventor ou um grande artista, não creio.
Será que nosso povo
ainda se lembra de nossos antigos ídolos do rádio brasileiro? E imaginem quão
extensas seria a lista! E nossos principais ídolos do teatro e de nossa música
popular? E isto apenas para citar os ídolos do povão.
E dos ídolos mais recentes, que marcaram seus
nomes através da televisão. Logo, logo estarão esquecendo de Chico Anísio,
falecido recentemente e que além de ter sido um ator completo, foi o maior
gênio do nosso humorismo!
De nossos políticos,
é natural que o povo esqueça, pois se não os tivessem esquecidos, não os teriam
reelegido apesar de terem sido condenados por improbidade e corrupção.
Perguntem a um
carioca que trafega todos os dias por uma das principais artérias de
Copacabana, quem foi Barata Ribeiro; perguntem a um petropolitano comum, quem
foi Floriano Peixoto. Ele sabe onde fica rua, mas dificilmente saberá o porquê
da homenagem ao nome que está na placa indicativa.
Resumindo: Além dos
problemas clínicos, ficou mais do que provado que a falta de memória não só é
em função do desinteresse do idoso, como também da falta de cultura da
população. Vejam em que estado estão nossos bustos e estátuas em nossos parques
e jardins públicos. E não é um problema petropolitano, é nacional. Quem os
emporcalha, antes de serem pichadores, são ignorantes. Parte da culpa cabe aos
nossos educadores, escritores e à imprensa em geral. É nosso dever, como
membros das principais entidades da Cidade, voltadas para a cultura,
reverenciar quem nos deixou um legado cultural, como está fazendo, por exemplo,
a Academia Brasileira de Poesia que, em parceria com a Fundação de Cultura e
Turismo de Petrópolis estão publicando o livro “Luz Mediterrânea”, de Raul de
Leoni, nosso poeta maior, para ser distribuído gratuitamente para a população
e, principalmente, para os alunos das escolas municipais. Vejam também como
está fazendo a presidência da Academia Petropolitana de Letras, juntamente com
membros de sua diretoria, ao preparar uma palestra festiva que ocorrerá ainda
este ano, em comemoração ao centenário, se vivos estivessem, de nossos ilustres
confrades, companheiros de um passado recente. Mas para que tais providências
possam ser tomadas, se faz necessário que as diretorias das referidas
Academias, deixem subsídios sobre a nossa história para a próxima e, assim,
sucessivamente - providência essa que não estava ocorrendo.
Se todos os nossos
heróis, artistas e vultos históricos, em geral, pudessem ter sido lembrados e
homenageados por nossos veículos de comunicação, como foi, no ano passado
comemorado o centenário do privilegiado Nelson Rodrigues, a memória do povo
estaria bem melhor.
Finalizando, cito
parte da letra de um compositor brasileiro, do qual esqueci o nome, que diz:
“quem quiser fazer por mim, que o faça agora, enquanto ainda estou
vivo”.
Publicada no jornal “Tribuna de Petrópolis”
em 07 de agosto de 2013
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