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segunda-feira, 19 de agosto de 2013

ANGELO ROMERO - PROCURA-SE A MEMÓRIA PERDIDA






Angelo Romero

O título desta matéria ficaria bem nos classificados dos principais jornais do Brasil, já que nosso povo é, por tradição, desmemoriado em relação aos ídolos e grandes vultos do passado, em todos os segmentos de nossa história: patrióticos, culturais e artísticos. Certa ocasião, em conversa com Abelardo Romero, meu pai, poeta, jornalista e historiador, perguntei a ele o porquê das pessoas idosas perderem a memória, justamente elas, as que mais fatos registraram ao correr do tempo! Seria em função da longevidade? Coincidentemente, também preocupado com o assunto, Abelardo acabara de ler um livro escrito por um famoso cientista estrangeiro, que versava justamente sobre o problema: “Perda da Memória”. Não me lembro do título do livro e muito menos da nacionalidade e do nome do tal cientista, pois minha memória já me trai.

Entretanto, o que ouvi a respeito me surpreendeu e eu jamais esqueci. A perda da memória não está relacionada, exclusivamente, à idade avançada. É um problema clínico que pode afetar qualquer pessoa, independentemente da idade que possa ter. No entanto, e aí vai a surpresa, no caso da pessoa idosa, a perda é bem mais frequente e acentuada em função do desinteresse por certos aspectos da vida, a partir da falta de perspectiva pelo futuro. O idoso passa a ser bem mais seletivo. Justamente pelo acúmulo do armazenamento de fatos em seu cérebro, acontecimentos e sonhos não realizados, vão fazendo com que ele perca o interesse e esqueça. Ou seja: baseado em profundos estudos científicos, o autor do livro garante que a falta de memória, no idoso, engloba 50% de problemas clínicos e 50% de desinteresse. Exemplo: pergunte a um idoso, à noite, algo sobre o passado remoto e o que ele consumiu no almoço daquele dia. De um fato antigo ele se lembra, mas de um recente não. Simplesmente pelo fato de que não lhe interessa lembrar o que ingeriu no almoço. No entanto, do passado, raramente esquece. Datas talvez, mas o que ocorreu, nunca. Porque será que a pessoa idosa esquece de tomar seus remédios? Porque sabe, que apesar da importância, o remédio é para lhe manter viva. Se fosse para lhe devolver a juventude perdida ela jamais esqueceria de tomá-lo.

O problema de falta de memória para o brasileiro é agravado por um fator cultural. Façamos um teste: apresente para um aluno de segundo grau, por exemplo, uma lista com nomes que ajudaram a escrever nossa história, nos mais diversos segmentos e pergunte se ele sabe dizer quem fez o que. Se nesta relação constar o nome de um famoso jogador de futebol e o aluno for um apaixonado por nosso principal esporte, talvez ele saiba responder. Mas se foi um herói, um escritor, um cientista, um inventor ou um grande artista, não creio.
Será que nosso povo ainda se lembra de nossos antigos ídolos do rádio brasileiro? E imaginem quão extensas seria a lista! E nossos principais ídolos do teatro e de nossa música popular? E isto apenas para citar os ídolos do povão.

E dos ídolos mais recentes, que marcaram seus nomes através da televisão. Logo, logo estarão esquecendo de Chico Anísio, falecido recentemente e que além de ter sido um ator completo, foi o maior gênio do nosso humorismo!

De nossos políticos, é natural que o povo esqueça, pois se não os tivessem esquecidos, não os teriam reelegido apesar de terem sido condenados por improbidade e corrupção.

Perguntem a um carioca que trafega todos os dias por uma das principais artérias de Copacabana, quem foi Barata Ribeiro; perguntem a um petropolitano comum, quem foi Floriano Peixoto. Ele sabe onde fica rua, mas dificilmente saberá o porquê da homenagem ao nome que está na placa indicativa.

Resumindo: Além dos problemas clínicos, ficou mais do que provado que a falta de memória não só é em função do desinteresse do idoso, como também da falta de cultura da população. Vejam em que estado estão nossos bustos e estátuas em nossos parques e jardins públicos. E não é um problema petropolitano, é nacional. Quem os emporcalha, antes de serem pichadores, são ignorantes. Parte da culpa cabe aos nossos educadores, escritores e à imprensa em geral. É nosso dever, como membros das principais entidades da Cidade, voltadas para a cultura, reverenciar quem nos deixou um legado cultural, como está fazendo, por exemplo, a Academia Brasileira de Poesia que, em parceria com a Fundação de Cultura e Turismo de Petrópolis estão publicando o livro “Luz Mediterrânea”, de Raul de Leoni, nosso poeta maior, para ser distribuído gratuitamente para a população e, principalmente, para os alunos das escolas municipais. Vejam também como está fazendo a presidência da Academia Petropolitana de Letras, juntamente com membros de sua diretoria, ao preparar uma palestra festiva que ocorrerá ainda este ano, em comemoração ao centenário, se vivos estivessem, de nossos ilustres confrades, companheiros de um passado recente. Mas para que tais providências possam ser tomadas, se faz necessário que as diretorias das referidas Academias, deixem subsídios sobre a nossa história para a próxima e, assim, sucessivamente - providência essa que não estava ocorrendo.

Se todos os nossos heróis, artistas e vultos históricos, em geral, pudessem ter sido lembrados e homenageados por nossos veículos de comunicação, como foi, no ano passado comemorado o centenário do privilegiado Nelson Rodrigues, a memória do povo estaria bem melhor.

Finalizando, cito parte da letra de um compositor brasileiro, do qual esqueci o nome, que diz: “quem quiser fazer por mim, que o faça agora, enquanto ainda estou vivo”.            
  
Publicada no jornal “Tribuna de Petrópolis” em 07 de agosto de 2013


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