Patrícia Dantas |
Patrícia Dantas
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O mundo contemporâneo! O que é isto que nos
torna tão diferentes, individualistas, perdidos na imensidão das coisas, do
tempo, do espaço, o que é? sem nem mesmo tempo algum para apreciar as
companhias agradáveis, os sabores que se esbaldam no ar, escutar os passos que
fazem barulho no asfalto molhado, o som escondido no céu que se revela; tempo
para pararmos dentro da gente e buscar talvez algo que inquieta e não podemos
compreender porque não sabemos mais da hora de refletir, na verdade.
Mas será mesmo que perdemos nossa face limpa,
nossos traços, será que conseguimos nos reconhecer ao fundo do espelho, ou
nossos desejos tão antigos e atuais, também se esfumaçaram e se confundiram com
os ares banais que arregaçam as árvores indefesas nas ruas, depois do longo
inverno cortante? É disso que não precisamos, da frieza, do acaso perdido, da
bondade solitária, da solidão que não serve para nada, só para afugentar -
ainda bem que dizem que há tipos e tipos de solidão, o que não vem ao caso
agora, porque correria o risco da crônica já ameaçada pelos sentidos nunca mais
terminar.
Conseguimos sim nos reconhecer, algumas vezes,
por curtos momentos, mesmo os donos de si há de um dia admitir que viajaram
alguns dias de suas vidas para lugares tão distantes que não se reconheceram na
volta, um dia, quem sabe, quando muita coisa ficar para trás e outras muitas
coisas voltarem ao seu lar com mais força e sabedoria de como não abandonar as
doces criaturas que esperaram tanto tempo – algumas até já se foram, tão
cansadas, mas havia esperança, muitos diziam.
Não somos tão diferentes assim quanto
parecemos, temos nossas particularidades que dizem que existe alguém aqui, uma
personalidade, um indivíduo que tem sua história – que também pode ser bem
parecida com a sua, é só experimentar compartilhar com outras pessoas!
E é esse sabor que compartilharmos desse
estado único, de células iguais, harmonia no funcionamento, processos
complexos, uma máquina perfeita humana no sentido da composição – não falo aqui
das loucuras, o que é algo intrincado de cada um e só diz respeito ao
possuidor, em sua propriedade única e exclusiva – que dá o sentido de não nos
sentirmos tão sozinhos ou acharmos que só nossa história importa, embora
aconteça num ritmo frenético, nas consultas ao psicólogo, psicanalista,
neurologista e mais outros “atras” e “istas” que não param por aí.
Não faz nenhum sentido ser tão especial ou se
sentir gigante num lugar que é tão imenso, é só olharmos algumas vezes do alto,
talvez de um penhasco distante, uma praia com suas ilhas desertas lá no
horizonte, as metrópoles, a multidão.
Faz sentido? Talvez realmente não sejamos tão
imensos quantas tantas vezes aparentamos, nosso ego corre até o risco de agir
como algumas cromátides que desejam se separar o mais rápido possível na
divisão celular, buscar novos rumos, independentes de qualquer muro que nos
cerca. Somos muito parecidos, e na maioria das vezes, nem tão diferentes assim
quanto imaginamos.
Foto: Sérgio Pavanello
Verdade, Patrícia Dantas, não somos tão diferentes, apenas alguns têm mais consciência de si e consegue evitar, por exemplo, que suas ações sejam contaminadas pela inveja, o ciúme, o desejo de vingança, etc., que todos sentem, mas que a maioria não percebe que sente e, por não perceber, age levada por tais sentimentos. Portanto a diferença está apenas na ação, na conduta visível. Parabéns pelo artigo, achei-o muito bom.
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