O ano de 1979 marcou uma virada
na vida do escritor americano Paul Auster, 66. Com o primeiro casamento em
crise e quebrado financeiramente, ele encerrava a década em que se dedicou à
poesia em
crise existencial e literária.
O escritor americano Paul Auster, que tem suas poesias reunidas em livro, em Paris |
Sem conseguir escrever
desde o ano anterior, ele se arriscava novamente na prosa com o texto
experimental "Espaços em Branco", que coincidentemente concluiu na
mesma noite em que seu pai morreu.
Para Auster, foi seu renascimento como escritor e ponto de partida
para tornar-se um dos mais importantes nomes da literatura contemporânea dos
EUA.
Toda sua produção
literária até esse período, que marca os anos de formação do autor, acaba de
chegar às livrarias.
"Todos os Poemas" (Companhia das Letras) expõe uma
faceta pouco conhecida de Auster até mesmo por seu público nos EUA: a reunião
de sua obra poética, escrita na década de 1970 - as exceções são "Espaços
em Branco" e as reflexões "Anotações de um caderno de rascunhos",
de 1967, compostas quando ele tinha 20 anos.
"Foi a fundação de tudo o que fiz nos 30 anos
seguintes", disse o escritor em entrevista à Folha.
Fragmentos dos romances que tentou escrever nessa época foram
usados anos depois na novela "Cidade de Vidro", que compõe um de seus
mais famosos livros, "A Trilogia de Nova York".
"Nunca estava satisfeito com o que escrevia. Quando tinha 22
ou 23 anos, decidi que não poderia mais escrever ficção. Então me dediquei
apenas à poesia".
Parte dos poemas foram escritos no período em que viveu na França,
entre 71 e 74. Na segunda metade daquela década, algumas de suas coletâneas
foram publicadas em revistas de poesia, mas sem transformá-lo em um nome
conhecido.
Há em seus poemas elementos que, mais tarde, ele desenvolveria em
sua obra ficcional, como o existencialismo.
O último poema ele escreveu em 1979. "Descobri que estava me
repetindo, a poesia me abandonou", conta. "Talvez algum dia eu
ressuscite e escreva [poesia] novamente".
Sobre os diferentes gêneros em que transitou, ele faz uma
comparação: "Poesia é como tirar fotografia, enquanto escrever ficção é
como dirigir um filme, com imagens e muitas coisas acontecendo ao mesmo
tempo".
Auster não tem dúvida de que "Espaços em Branco" foi um
trabalho seminal para sua transição entre poesia e prosa.
Inspirado em um espetáculo de dança, ele tentou traduzir a
experiência da performance coreográfica. O autor trabalhou no texto por duas
semanas. O ponto final foi dado na madrugada do dia 15 de janeiro de 1979,
mesma noite em que perdeu o pai.
"Foi algo cruel e estranho, que ainda me machuca. Justo no
momento em que voltei à vida, meu pai morre. Foi terrível", recordou
Auster.
Após a morte do pai, o escritor começou a trabalhar no que seria
seu primeiro romance, "A Invenção da Solidão", em que mescla
recordações pessoais, tendo como base a figura paterna, com imagens literárias
e artísticas.
Veja aqui trechos da entrevista que ele concedeu à Folha, em Nova York, na última
quinta:
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