Valdeck Almeida de Jesus
Todo
mundo tem vontade de cometer um pecado, resvalar pela trilha mais fácil, ser
pego com a boca na botija. E que se calem os honestos de plantão, os defensores
da moral e dos bons costumes. Atire a primeira pedra quem não burlou recolhimento
de impostos, não ficou com o troco a mais na padaria, não olhou para a mulher
ou para o marido do próximo...
Traição
pode. Matar já seria demais! Mesmo assim a lista de deslizes não para de
crescer e, mesmo em pensamento muita gente já matou amigos, sogras, vizinhos,
colegas de trabalho. Só não vale confessar, tampouco ir às vias de fato, ou
seja, esganar, assassinar. Pensar pode.
Em pensamento até crimes hediondos são
cometidos, nem me atrevo aqui a citar alguns deles, pois os moralistas podem encontrar
uma brecha na lei para me enquadrar, sob qualquer pretexto. Incitação ao crime
seria um deles.
Mas, com
ou sem previsão legal, os crimes rolam soltos. Citar falcatruas políticas,
desvios de verbas e outras fraudes, tramóias, manhas, dolos, tretas etc seria
muita ingenuidade. Afinal, nada disso choca mais ninguém. A resposta é simples:
ninguém escapa, todo mundo tem o rabo e outras partes do corpo bem presos, bem
amarrados, para não dar pinta!
Só
citarei o exemplo de um casal que se maquia todo dia. Ele se ajeita todo, bota
perfume, aperta o cinto, lustra o sapato, borrifa cheirinho de hortelã na boca,
passa a ponta do indicador nas sobrancelhas, se apruma diante do espelho e
marcha, como um soldado, para ocupar seu alto posto na cidade. No trajeto, não
vê pedestres, finge não perceber o semáforo amarelo e acelera, fecha os vidros
para não ser incomodado... Ela, quilos de tinta no rosto, sacudidela nos
cabelos, estica saia daqui, puxa blusa dali, confere a bolsa, se apóia sobre os
saltos, personagem montada e lá vai.
Muita
gente vive fazendo este mesmo teatro na vida. Nos encontros sociais fazem
discurso a favor da democracia, mas quando se deparam com uma situação real,
mudam de postura. Este casal, como tantos outros, é um exemplo de desencontro entre
o discurso e a prática. Quando se cruzam nos corredores da vida sequer olham
nos olhos ou dirigem uma palavra. Cada um na sua empáfia se acha superior ao
outro. São castos, ocupam lugar de destaque no mundo e nada pode lhes ser
apontado. É o que cada um pensa, apesar das falsas aparências. Afinal, ninguém
é perfeito e todos fazem parte do mesmo teatro: cidadão e sociedade...
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