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Valdeck Almeida de Jesus jornalista e escritor |
Esse cara sou eu, ou, nem tudo é
obrigação do governo
Certa
feita um amigo me perguntou por que nem sempre eu xingo o governo, não jogo
pedras, não falo mal. Imediatamente, sem pestanejar, respondi que não posso
agredir a mim mesmo. Afinal, quem está no governo, no senado, na câmara federal
etc, foi escolhido por mim. E, como a maioria dos cidadãos, nem sempre tenho
interesse ou tempo para acompanhar o trabalho legislativo, seguir os passos dos
governantes, fiscalizar devidamente cada projeto, investimento, contrato,
concessão. O que der certo ou errado tem uma grande parcela de minha conivência.
Nunca
fui à Câmara de Vereadores de Salvador, por exemplo, assistir a uma sessão
ordinária; idem em relação à Assembléia Legislativa. No Congresso, nem de
longe, para posar em foto de turista. Então, que legitimidade eu tenho para ser
oposição, achincalhar, criticar, botar defeito? Por outro lado, eu não vivo
totalmente inerte, anestesiado, apático, alienado. Minha participação nesse
processo não se resume a apertar o botão verde a cada quatro anos.
A
cidadania eu exerço de outro modo, na medida do possível. Minha militância é
como a de Mia Couto: na juventude, participava das atividades políticas mais diretamente;
agora, milito através da literatura. Minhas ideias estão nos meus textos,
incentivando atitudes, voto consciente, cobrança e fiscalização efetiva. Na
medida do possível, também, participo de grupos de discussão, reunião de
escritores, debates, congressos, simpósios etc, e não vou apenas para aumentar
a plateia. Encaminho sugestões, aceito provocações, envio perguntas e cobro
respostas e posicionamentos. Sair da zona de conforto é preciso. Parar de
reclamar e agir, também é preciso.
Passei
boa parte da vida esperando mudança no panorama cultural, artístico, econômico,
sem interferência direta minha. Afinal, participar de qualquer atividade nos
coloca em risco, na mesma posição em que o governo se encontra, alvo fácil de
pedradas. Devido à minha inércia, percebi que eu era sempre quem perdia mais.
Daí comecei a me mover, atuar. As conquistas são poucas, as críticas são
muitas. Mas não dá para medir sucesso ou fracasso pelas palmas ou vaias de quem
está apenas na posição de expectador. Vou continuar minha peregrinação e, de
agora em diante, me engajar mais na fiscalização dos atos praticados pelos meus
eleitos. Afinal, sou povo, sociedade e governo e não dá para deixar o trem
andar sozinho. Preciso tomar as rédeas.
Por: Valdeck
Almeida de Jesus – jornalista e escritor
Excelente!
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