“Janela da Alma” de João Jardim e Walter
Carvalho, ambos portadores de miopia, é um documentário bastante interessante.
Embora esteja contextualizado dentro de uma simplicidade, o depoimento de
várias personalidades anônimas e famosas como: o músico Hermeto Pascoal, o
escritor José Saramago, a atriz alemã Hanna Schygulla, o poeta Manoel de
Barros, a cineasta Agnès Varda, nos remete para um mundo bem diferente daquele
que estamos acostumados a conviver e ver.
O testemunho do vereador mineiro, muito
me impressionou. Durante o documentário ele vai conduzindo o motorista à rua
onde o mesmo deseja chegar. E a forma carinhosa e sem preconceito com que a sua
filha fala dele tendo orgulho de ter um pai cego.
Os depoentes, quase todos com pessoas que tem
deficiência visual como o estrabismo de Hermeto Pascoal, a cegueira do
fotografo Eugen Baycar, além da própria miopia do autor. Graças à competência
dos autores, este documentário nos elucida que a visão interior é bem mais
profunda que a simples utilização do globo ocular.
Uma passagem que nos emociona é quando Agnés
Varda narra à filmagem que fez do marido, e também cineasta, Jacques Damy antes
de ele morrer de câncer. As imagens feitas tão próximas graças a sua
deficiência visual nos leva a entender que ela fez da sua filmagem uma viagem
por paisagens sensíveis de todo o corpo do seu amado como se quisesse deixá-lo
longe da morte.
Todos os depoimentos nos fazem pensar sobre o
olhar. Com a sensibilidade da qual somos dotados, podemos entender que a magnitude
da visão transcende o fisiológico, o simples fato de se ver.
Embora estas pessoas não tenham a visão
perfeita, elas acabaram adquirindo outros meios e habilidades para viverem e
serem felizes como qualquer pessoa que enxergam perfeitamente bem. E muitos são
dotados de dons no mundo da arte os quais desenvolvem com uma perfeição
incrível. Isso só nos mostra que todos somos capazes, mesmo com deficiência. O
que é necessário é coragem, força de vontade, determinação, fé e jamais
dobrar-se diante das dificuldades.
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