Patricia Dantas
http://patriciadantas01.blogspot.com.br/
Poucas palavras bastam para sabermos
que somos um tanto quanto universais. Paixão, amor, solidão, ilusão, fantasia e
todos os reinos povoados desses sentimentos que na maioria das vezes nos
atravessam por dentro são sempre nossos, inteiros, com muita força e graça
trágica, sem dó nem piedade. É o infinito de todas essas composições que nos
joga em qualquer palco solitário, em busca do entendimento de nós mesmos, numa
viagem ininterrupta, sempre com pressentimentos, na contramão da coisa.
Existem culturas e culturas,
memórias, hábitos, costumes e tudo o que se configure na alma do lugar, nas
características essenciais, em toda a tipicidade que quase mostra uma cara e
diz “olha, você daqui porque você é assim!”. O que mais surpreende, como num
filme de suspense, é que ao passo que temos mais acesso ao mundo, sua
multiplicidade e cumplicidade, suas mostras de todo sadismo, despudor,
liberdade, invenções, ainda parece que estamos vivendo como nossos pais, como
diz a letra de Belchior, tão insistente: “Minha dor é perceber/ Que apesar de
termos/ Feito tudo, tudo/ Tudo o que fizemos/ Nós ainda somos/ Os mesmos e
vivemos/ Ainda somos/ Os mesmos e vivemos/ Ainda somos/ Os mesmos e vivemos/
Como os nossos pais...”.
A dor continua, tão insistente como
quando começou, e o que mais se tinha medo “Ainda somos os mesmos, e vivemos
como nosso pais” é tão real que não se pode nem mesmo virar a cara como num
estalo de ranço ou pudor, é o que somos. Talvez nem sejamos ainda tão liberais
nos costumes e ainda guardemos um saudosismo pelos lugares que costumávamos ir
há pouco tempo atrás.
Não conseguimos nos desapegar tão
fácil, dos amigos, das paixões, dos amores (estes, nunca, jamais), dos lugares
e de tudo o que ousamos imaginar como um recôndito de segurança (ainda que
muitas ainda sejam pura ilusão) não desejando que tudo isso seja necessário,
mas é o fato nosso de cada dia, somos apegados, esta é nossa espécie de
confissão.
Ouvi de um amigo que seu amigo lhe
confessara “somos transuniversais!” Mas o que é isto? Pensei, na verdade, o que
ele quis dizer com aquela convicção que imaginei brotar do seu rosto ao
pronunciar tal frase. Ou ele teve muita certeza de si em tal afirmação ou não
teve noção alguma, talvez nem ele saiba o que disse, mas acredito que fluiu com
um tirânico sentido. Houve um sentido que me deixa extasiada, ao pensar que
poderíamos driblar qualquer barreira de cultura, língua, etnia, condição
social, religião. Tudo junto e misturado, como diz o ditado. Triste mesmo é
saber que não funciona bem assim. É mais uma gangorra ou uma colossal
roda-gigante: segure-se quem puder - você poderá ser excluído a qualquer
momento, se não seguir os padrões impostos em determinado lugar no mundo, lá,
bem aonde sempre se quis ir.
Talvez nem sejamos tanto universais
ou transuniversais, mas sabemos o que compartilhamos, como e com quem, até
parece que basta, mas não é só, queremos também a recompensa, a retribuição
para nos sentirmos conectados e seguros na teia que nos une como seres humanos,
sem distinções, apenas, humanos.
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