Homem, de 70 anos, conseguiu R$ 720
e imprimiu 40 exemplares.
Obra é uma autobiografia do autor que nasceu na ilha de Marajó, no Pará.
Para realizar o sonho de publicar um
livro, um escritor de 70 anos de idade que mora em Palmas(TO),
catou cerca de 24 mil latinhas de cerveja e refrigerante para vendê-las e
conseguir o dinheiro necessário para a impressão. Com o valor arrecadado,
aproximadamente R$ 720, o escritor imprimiu uma tiragem de 40 exemplares da
obra 'Histórias de um Juricaba'. A gráfica entregou os livros no final de
janeiro deste ano e o autor, Agostinho Quintino Batista, já vendeu a primeira
tiragem. Com o valor das vendas, ele pretende encomendar uma nova 'fornada'.
Batista disse que começou a escrever
o livro em dezembro de 2012 e, enquanto não estava escrevendo, reunia as
latinhas pelas ruas da cidade. Ele afirmou que a ação trouxe outro benefício.
"Foi bom porque mexeu com o físico. Eu fiz muita ginástica",
explicou. Segundo o escritor, um quilo de latinhas é vendido no mercado de
Palmas por cerca de R$ 1,80. Para conseguir o dinheiro necessário, ele catou aproximadamente
400 quilos de latinhas.
Batista juntou as latas sozinho e
demorou pouco mais de um ano para apurar o valor da impressão do livro.
'Juricaba', segundo o autor, é um índio guerreiro, o que explica o tema do
livro de 171 páginas.
Na obra, ele conta as histórias da
vida dele, das andanças pelo norte brasileiro e as dificuldades que enfrentou
desde a infância em uma tribo indígena na ilha de Marajó, estado do Pará. Entre as histórias, ele
conta como surgiu a ideia de publicar um livro e os desafios enfrentados para
conseguir fazê-lo. Com uma linguagem simples, o escritor, que aprendeu a ler
sozinho, prende o leitor com uma trajetória de vida inusitada e com os
encontros que teve com personagens históricos, como o seringueiro e ativista
político Chico Mendes.
Mesmo com todo o empenho, Batista
ainda não teve um retorno financeiro. Cada livro foi vendido por R$ 20. No
total, apenas R$ 80 a mais do que o valor gasto com as impressões. Por outro
lado, ele já é reconhecido pela população do Pará, seu estado de origem. Em
março ele vai receber um título, que vai se chamar 'embaixador juricabano' em
uma cerimônia que será realizada na praça do Mercado Ver-o-Peso, em Belém (PA).
Trajetória do autor
Um acidente desviou o percurso de vida de Batista e o levou a aprender a escrever. Ele levou uma picada de cobra aos sete anos de idade e teve que abandonar a tribo onde nasceu. "Eu fiquei aleijado por 3 anos e índio não gosta de aleijado. Minha mãe me levou para morar fora da tribo. A gente não se escondeu, todo mundo sabia onde a gente morava, mas não podíamos ficar na tribo", explicou.
Um acidente desviou o percurso de vida de Batista e o levou a aprender a escrever. Ele levou uma picada de cobra aos sete anos de idade e teve que abandonar a tribo onde nasceu. "Eu fiquei aleijado por 3 anos e índio não gosta de aleijado. Minha mãe me levou para morar fora da tribo. A gente não se escondeu, todo mundo sabia onde a gente morava, mas não podíamos ficar na tribo", explicou.
Ele contou que quando criança tinha
o hábito de desenhar no barro da margem de um rio que ficava perto da casa
dele. Em um destes momentos ele encontrou o primeiro incentivo à leitura, um
exemplar da extinta revista 'O Cruzeiro'. "A revista vinha com um
abecedário bem grande e eu ficava desenhando as letras no chão. Com o tempo eu
fui aprendendo a ler sozinho, mas para escrever eu precisei de ajuda, pois não
entendia como juntar as letras", explicou.
Batista aprendeu a escrever com a
ajuda de voluntários do Projeto Rondon, um programa do governo federal que leva
profissionais de diversas áreas para regiões menos desenvolvidas do país.
"Eu estava numa árvore vendo os passarinhos quando esse pessoal chegou.
Eles me ajudaram a escrever e depois eu fui ensinar os filhos de
seringueiros", explicou.
O escritor morou em vários lugares
no norte do país e teve diversos ofícios. "Eu fiz de tudo. Fui
seringueiro, balateiro [quem colhe a seiva da balata], pescador, garimpeiro e
piloto de barco", relatou. Batista veio para o Tocantins para ficar perto
dos cinco filhos que moram e trabalham na região. Aposentado, ele chegou em
Palmas em 2007 e há alguns anos frequenta a Universidade da Maturidade (UMA),
um curso oferecido pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) para pessoas da
terceira idade.
Segundo Batista, ele já tinha vontade de escrever um livro e
foi na UMA que ele encontrou a vontade de realizar o sonho. Batista também
escreveu cerca de 80 poemas de cordel ao longo da sua trajetória e ainda
dedica-se ao artesanato.
(Foto: Bernardo Gravito/G1)
Excelente artigo! Adorei e me emocionei!
ResponderExcluirGrata por compartilhar tão linda história, Cymar!!!