Indivíduos friorentos têm um consolo para
enfrentar as baixas temperaturas: tremer de frio pode queimar tanta gordura
quanto fazer exercícios moderados, segundo um estudo conduzido por cientistas
da Austrália e Estados Unidos.
Ambas as atividades convertem o tecido adiposo
branco (a indesejada gordura que armazena energia no corpo humano) em tecido
adiposo marrom (que, ao contrário, queima energia para gerar calor), afirma o
estudo.
Na pesquisa, indivíduos que tremeram por dez a 15
minutos em uma sala refrigerada e que fizeram uma hora de bicicleta a um ritmo
moderado produziram a mesma quantidade do hormônio que estimula essa conversão.
O estudo foi coordenado pelo cientista australiano
Paul Lee, do Instituto de Pesquisas Médicas Garvan, em Sydney, nos Institutos
Nacionais de Saúde americanos (NIH, na sigla em inglês), em Washington.
As conclusões foram detalhadas na publicação
científicaCell Metabolism.
"Quando sentimos frio, primeiro ativamos a
nossa gordura marrom, porque queima energia e emite calor para nos proteger.
Quando essa energia é insuficiente, o músculo se contrai mecanicamente, ou
treme, gerando calor dessa forma", explicou Lee.
O estudo se insere em uma nova linha de
descobertas relativas à gordura marrom desde que este tecido voltou a atrair as
atenções da ciência.
'Gordura boa'
A gordura marrom é um mecanismo evolutivo que os
humanos desenvolveram para enfrentar as baixas temperaturas da Terra nos
primórdios da história. Existe em animais que hibernam, como os ursos, e ao
redor do pescoço de bebês recém-nascidos, incapazes de se proteger do frio por
conta própria.
Os cientistas achavam que a gordura desaparecia
gradativamente até ser eliminada em indivíduos adultos. Entretanto, nos últimos
anos, diversos estudos comprovaram que os depósitos deste tecido diminuem, mas
não desaparecem no corpo – dando início a pesquisas para incentivar a formação
de gordura marrom como forma de combater a obesidade e a diabetes.
Um estudo da Universidade de Harvard em 2012,
custeada pelos NIH, identificou um hormônio produzido pelos músculos durante o
exercício que transforma o tecido adiposo branco em marrom em animais, a
irisina.
Na pesquisa coordenada por Paul Lee, voluntários
foram expostos a temperaturas entre 12 e 18 graus centígrados, começando a
tremer entre 14ºC e 16ºC.
"Identificamos dois hormônios que são
estimulados pelo frio – a irisina e o FGF21 – que são liberados,
respectivamente, pelo músculo tremendo e pela gordura marrom", explicou o
endocrinologista.
"Estes hormônios aumentaram o ritmo de queima
de células adiposas brancas em laboratório, e estas células tratadas começaram
a emitir calor, o que é uma marca da função da gordura marrom."
Depois, estes participantes foram convidados a
participar de exercícios físicos para comparar os dois processos.
"Descobrimos que fazer bicicleta por uma hora em ritmo moderado produziu a
mesma quantidade de irisina que tremer por 10 a 15 minutos", disse Lee.
"Nossa especulação é que o exercício físico
imite o ato de tremer, pois há contração muscular durante ambos os
processos", afirmou. "E que a irisina estimulada pelo exercício tenha
evoluído a partir do ato de tremer de frio."
Frio benéfico
As conclusões de Lee apontam na mesma direção de
outras pesquisas que também relacionam a queima de calorias à exposição
moderada a baixas temperaturas.
Um estudo no Japão observou a redução da gordura
corpórea em pessoas que passaram duas horas por dia em uma temperatura de 17
graus centígrados durante seis semanas.
Outra pesquisa da Universidade de Maastricht, na
Holanda, indicou que indivíduos que passaram seis horas a 15 graus por dez dias
tiveram seus depósitos de gordura marrom aumentados – o que em troca as
permitiu adaptar-se à temperatura mais facilmente.
Cientistas estimam que, enquanto 50g de gordura
branca armazenam 300 calorias no corpo, 50g de gordura marrom queimam 300
calorias por dia.
Indivíduos com mais proporção de gordura marrom
tendem a ser mais magros que indivíduos que têm menos esse tipo de gordura.
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