Cymar Gaivota
04 de
dezembro de 1965, o dia em que eu decidi conhecer o mundo onde vivia minha
família. Certamente a força que me criou me impulsionou ao voo.
Minha mãe conta que naquele
dia ela acordou com uma vontade imensa de comer abacaxi; ela então foi à feira
e comprou uma unidade da desejada fruta, mas, acabou deixando em uma banca para
pegar na volta quando terminasse as compras. Porém, ela só percebeu que tinha
esquecido o abacaxi na feira quando chegou a casa. Passou o dia todo com
vontade de comer abacaxi. Juntando com a vontade de comer abacaxi, dentro de
seu útero uma criaturinha, medindo o tamanho de um palmo da mão, resolvia
deixar aquele lugar tão aconchegante para conhecer esse mundo. Nasci de boca
aberta porque eu queria comer abacaxi.
Nossa!
Certamente eu não tinha a menor noção sobre esse planeta! Hoje fora do meu
esconderijo onde fiquei por nove meses, sinto uma imensa saudade de voltar a um
lugar que eu não sei onde é. Será que seria inconscientemente do útero da minha
mãe? Ou além-útero?
Estou
por aqui desde então. Tento me acostumar com tudo de novo que me foi
apresentado e percebo que ainda continuo me sentido uma estranha em terras
desconhecidas.
É
uma sensação de impotência e busca incessante. São tantos os caminhos, entre os
becos, as curvas, o desvio que sinto ao mesmo tempo um cansaço pela frustrante
busca e uma vontade imensa de prosseguir.
O
tempo passou por mim e eu vi o tempo todo o vento soprando e me colocando no
ontem.
E por mais que eu tente entender o porquê que
eu entrei, como me formei e por que eu sair de dentro de minha mãe menos ainda
eu entendo porque eu estou aqui.
Ao
mesmo tempo em que me sinto fraca, há uma força estranha que me toma e me diz o
tempo todo para continuar o caminho que no final terei todas as respostas.
Essa
mesma força estranha me mostra que sou um ser mais forte do que eu mesma sei e
muito mais capaz do que me dei até aqui.
Sou
impulsionada o tempo todo a ter fé. As lágrimas que molham minha face são estas
que dá vida às minhas esperanças e quanto mais sinto dor mais sinto a
necessidade de dá risos para minhas lágrimas.
Recordo
todos os meus aniversários de criança. Lembro-me do meu pai chegando pela porta
da frente (ele nunca entrava em casa pela porta do fundo, nem quando estavam
limpando a casa) com uma lata de Goiaba cantando os parabéns pra você.
Juntava-nos ao seu redor e então fazíamos a festa. Nossa! Esses foram os
meus melhores aniversários! A vida pulsava em todos, especialmente nele que
hoje não está mais aqui para repetir a festa e nem eu sou mais criança para
receber essa festa como a mais bonita e importante da minha vida.
Olhando
pelo retrovisor posso ver o vento soprando o tempo todo, mas ao mesmo tempo
sinto que não vi e nem vivi tudo que a Vida me mostra como proposta.
Entendo
que devo continuar a caminhar. Vou recebendo as flores, tendo cuidado com os
espinhos, mas a Goiabada nunca será a mesma. Nada continua sendo o mesmo. O
segredo é recomeçar. E hoje a vida me chega abrindo os braços e me
chama para sair do “útero” e ver de frente os desafios que estão lá na frente e
que é essencial que eu prossiga a caminhada se eu quero entender o inicio de
tudo e as dores do percurso.
Minha querida amiga LuCymar, criados por vontade divina que somos, o Criador não nos fez um Ser simplesmente corpóreo, fez-nos espíritos, vivenciando uma experiência humana, de forma a impregnarmos o Mundo, com Sua essência. Essência essa, que existe em cada um de nós, para ser manifestada enquanto jornadeamos, periodicamente, no Orbe Terra. Todos temos, mais ou menos, lembranças das nossas vivências espirituais transatas. Seu primoroso texto amiga, trás um "in site" vigoroso, um indicativo claro, de que nossas saudades, não explicadas, plausíveis para compreensão mais racionais(?), têm sua gênese, em momentos outros, que não os de agora. Isto corrobora com a proclamação asseverada por Jesus: "...é preciso é que nasçais de novo!"...Chamou-me a atenção para o destaque feito em seu texto (espiritual) amiga, quando interroga: "...Será que seria inconscientemente no útero da minha mãe? Ou além-útero?", estudos avançados, considerados como "Psicologia Profunda", respondem: são recordações de "além útero", ou seja lembranças pretéritas.
ResponderExcluirAmiga Cymar, pela experiência, adquirida ao longo de mais de 40 anos, em assuntos dessa ordem, semelhantes aos pontos ressaltados em seu texto/depoimento, não quero apenas parabenizá-la, pelo conteúdo, pelo seu aniversário, mas sim, e, também sugerir aos meus amigos um mais profundo entendimento desse "recado", contido no texto, para mim, um POEMA À VIDA! - Maridásio Martins (Martsan)
Amiga Gaivota..que história linda com gosto de fruta,e esta fruta,,só vc pode saborear...
ResponderExcluirVida,sempre vida...Bjs com carinho.
Para você ver Catia Thiago, as Gaivotas não vivem só de sardinhas...srsrsr! Esqueci de dizer que eu nasci de boca aberta...Hehehehe!!!
ExcluirParabéns Gaivota!! Uma linda reflexão...Que Deus ajude a entender todas as suas interrogações!!! Mas para todos nós, foram dados o esquecimento e o livre arbítrio para que possamos aprender e trilhar novos momentos. Que Deus ilumine o seu caminhar!! Bjs
ResponderExcluirThaiz Smile, quando você fala de esquecimentos, você fala de coisas já vividas, certo? Há muitas dúvidas ainda e muitas reflexões nesse sentido. Bj!
ExcluirCaro mestre Maridásio Martins ( Martsan) fico feliz que o meu texto tenha recebido essa analise e de você que é uma pessoa que eu admiro. A ideia é essa mesmo, que as pessoas parem para refletir e tentar compreender ou se colocar para compreender. Creio que quem busca caminhos para se conhecer terá sensações semelhantes a essas minhas afinal ninguém de fato é desse mundo.
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