Wikipedia

Resultados da pesquisa

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

LIVRO – UM PRESENTE DE NATAL - SAYURI SUTO - PARA TODO O SEMPRE - NATAL!







Sayuri Suto

Mais uma vez é dezembro... Lembro-me então da minha infância e de como, apesar das dificuldades, minha mãe insistia em manter viva em nós a fantasia do Natal. Montávamos uma árvore, que era feita com um galho seco envolto de algodão e colocado numa lata de tinta coberta por papel de presente que lhe servia de base. Os enfeites não eram de plástico e nem inquebráveis como os de hoje, por isso, era preciso ter muita delicadeza para não quebrá-los, pois poderíamos nos machucar e também seria difícil repor as bolinhas, sininhos e gotinhas coloridas no ano seguinte.  Dessa forma, a árvore era montada devagar, com calma, com cuidado. Enquanto isso, ela nos contava histórias sobre a fábrica de presentes do Papai e da Mamãe Noel, lá no Polo Norte...
Eu e meu irmão, acreditávamos em Papai Noel e na Mamãe Noel. Não se fala muito em Mamãe Noel, na verdade, acho que somente na cabeça da minha mãe e na nossa, havia uma Mamãe Noel. E na véspera do Natal nós os esperávamos, depois da ceia e de ouvir a história do nascimento de Cristo, deitados no chão do quintal, olhando para o céu até adormecer...
Na manhã seguinte, lá estavam os presentes, que hoje sei, com muita dificuldade foram comprados. Era um momento feliz para nós e para a nossa mãe. Tempos mais tarde descobri que à alusão a Mamãe Noel era na verdade, uma alusão à nossa avó, que morrera quando minha mãe ainda era criança, deixando-a com um pai que embora fosse um bom homem, não era dado às fantasias. A fantasia que lhe faltou, ela nos deu em dobro. Obrigada, mãe!
O tempo passou, eu cresci, e a cada Natal vejo que a fantasia, bem como a festa cristã, se perde para tão somente uma data comercial. Tudo está muito rápido e todos estão muito distantes, embora a cada dia as redes sociais nos deem a ilusão de que temos um milhão de amigos... Recebi já muitos “Feliz Natal” em meus e-mails, de lojas nas quais possuo cadastro, mas um cartão mesmo, daqueles coloridos e cheios da caligrafia e do tempo de quem os escreveu, até agora não recebi nenhum, e confesso, também não os enviei... Certamente compartilharei os cartões virtuais...
Também eu, montei minha enorme e vistosa árvore de Natal. É linda, do jeito que eu sempre sonhei, cheia de presentes comprados sem a menor dificuldade. Mas não contei histórias enquanto a montava e o membro mais novo da família, minha filha de 10 anos, nem estava em casa para colocar a estrela. Eu fiz tudo errado. Nós temos feito tudo errado. A minha árvore é imponente e fria. Olho para ela e não vejo encanto...   
“Então é natal, e o que você fez? O ano termina, e nasce outra vez”. E o encanto? Onde se perdeu o encanto?
Então é natal e por isso, aquelas pessoas que passaram o ano inteiro sem lembrar-se de você, te estendem as mãos, te abraçam, te beijam, com sorriso nos lábios, como se todo o amor “guardado” durante o ano inteiro pudesse ser sentido nesse único momento. A família - quando há família - se reúne! Trocam-se presentes, come-se e bebe-se fartamente enquanto as luzes brilham. É lindo de se ver! Mas enquanto isso, milhares de enfermos estão deitados nos corredores dos hospitais, e muitos pobres, com estômagos vazios, pensam como seria bom um pedaço de pão... Quem se lembra disso?
Cristo? Quem se lembra? O Natal afinal não é uma festa Cristã? Todos trocam presentes e qual presente oferecem ao menino Jesus no seu aniversário? Algumas famílias ainda preservam a oração antes da ceia, agradecem a Deus as bênçãos alcançadas. Muitas igrejas encenam o nascimento de Cristo com esmero e depois pedem que o presenteiem com dízimos e ofertas alçadas...
A decoração das ruas, das lojas e dos shoppings é de tirar o fôlego! Enquanto isso, não existe saneamento básico na periferia, falta água, transporte, iluminação, falta dignidade... Para quem é o Natal? Para Cristo? E Cristo não é para todos?!
Então é natal, e o que você fez? O que eu estou fazendo? Paremos para refletir... O que significa a palavra “natal”? Nascimento! Então não poderíamos nascer, renascer todos os dias? Abraçar, beijar e sorrir todos os dias?  Amar todos os dias... Sem data marcada para presentear, fazer o bem, para declarar que se ama, enfim... Acabei de tomar uma decisão simbólica: minha árvore de Natal permanecerá montada o ano inteiro para que todas as vezes que eu a olhar, lembrar de que todos os dias precisam ser NATAL.
Viva o natal, os piscas-piscas, o pernil e o peru! Viva os Papais e Mamães Noel! Viva a família reunida, os abraços e beijos! Viva Cristo! Tudo isso é muito bom e saudável! Mas viva que esse “espírito natalino” do amor, da solidariedade, da fraternidade seja sempre e não apenas no mês dezembro... Feliz Natal, feliz nascimento, feliz renascimento para todos, todos os dias, hoje, amanhã e para todo o sempre! 

 BIOGRAFIA
Sayuri Suto é graduada em Letras Vernáculas pela UNEB – Universidade Estadual da Bahia – Campus IV, e especialista em Estudos Literários. Escreve romances, contos, crônicas e poemas cujas temáticas são os sentimentos que permeiam a alma humana – amor, ódio, medo, saudade, solidão... Ministra palestras sobre temas ligados à escrita, leitura e Literatura, bem como oficinas de leitura e de produção de texto.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Participe, opine, colabore, construa. Faça parte desse "universo".

PROJETO DE LEI QUE CRIA A PRIMEIRA EMPRESA ESTADUAL DO AUDIOVISUAL É ENTREGUE A ALBA PELO GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA

  https://www.ba.gov.br/cultura/ No dia 08 de outubro de 2024, pela manhã, o Projeto de Lei para a criação da Bahia Filmes foi encaminhado p...