10 maiores poemas de todos os tempos da literatura
brasileira
Cada poesia é única e provocada diferentes
repercussões nas vidas e emoções das pessoas. Um mesmo poema pode, por exemplo,
alegrar ou encher de melancolia a mesma pessoa em diferentes épocas da vida.
Fica quase impossível, portanto, escolher quais são os melhores poemas de todos
os tempos. Mesmo assim, um grupo de escritores, críticos, jornalistas e
professores aceitou o desafio e escolheu os 10 maiores poemas de
autores brasileiros de todos os tempos.
O ranking, feito pela Revista Bula,
reuniu as 24 poesias mais citadas entre uma lista de 40 indicações. Entre as
escolhidas, abaixo você pode conferir as 10 mais votadas.
Por medidas de direito autoral, algumas obras tiveram apenas trechos divulgados.
Por medidas de direito autoral, algumas obras tiveram apenas trechos divulgados.
Vou-me Embora pra Pasárgada (Manuel Bandeira)
Vou-me embora pra Pasárgada Lá sou amigo do rei Lá tenho a mulher que eu quero Na cama que escolherei
Vou-me
embora pra Pasárgada Vou-me embora pra Pasárgada Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura De tal modo inconseqüente Que Joana a
Louca de Espanha Rainha e falsa demente Vem a ser contraparente Da nora
que nunca tive
E
como farei ginástica Andarei de bicicleta Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo Tomarei banhos de mar! E quando estiver cansado
Deito na beira do rio Mando chamar a mãe-d’água Pra me contar as
histórias Que no tempo de eu menino Rosa vinha me contar Vou-me embora
pra Pasárgada
Em
Pasárgada tem tudo É outra civilização Tem um processo seguro De impedir
a concepção Tem telefone automático Tem alcaloide à vontade Tem
prostitutas bonitas Para a gente namorar
E
quando eu estiver mais triste Mas triste de não ter jeito Quando de
noite me der Vontade de me matar — Lá sou amigo do rei — Terei a mulher
que eu quero Na cama que escolherei Vou-me embora pra Pasárgada.
Poema Sujo (Ferreira Gullar)
turvo turvo a turva mão do sopro contra o muro escuro menos menos
menos
que escuro menos que mole e duro menos que fosso e muro: menos que furo
escuro mais que escuro: claro como água? como pluma? claro mais que
claro claro: coisa alguma e tudo (ou quase) um bicho que o universo
fabrica e vem sonhando desde as entranhas azul era o gato azul era o
galo azul o cavalo azul teu cu tua gengiva igual a tua bocetinha que
parecia sorrir entre as folhas de banana entre os cheiros de flor e
bosta de porco aberta como uma boca do corpo (não como a tua boca de
palavras) como uma entrada para eu não sabia tu não sabias fazer girar a
vida com seu montão de estrelas e oceano entrando-nos em ti bela bela
mais que bela mas como era o nome dela? Não era Helena nem Vera nem Nara
nem Gabriela nem Tereza nem Maria Seu nome seu nome era… Perdeu-se na
carne fria perdeu na confusão de tanta noite e tanto dia
(Trecho de Poema Sujo, de Ferreira Gullar).
Soneto da Fidelidade (Vinícius de Moraes)
De
tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.
Quero
vivê-lo em cada vão momento E em louvor hei de espalhar meu canto E rir
meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.
Via Láctea (Olavo Bilac)
“Ora
(direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no
entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas,
pálido de espanto…
E
conversamos toda a noite, enquanto A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu
deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
O Cão Sem Plumas (João Cabral de Melo Neto)
A cidade é passada pelo rio como uma rua é passada por um cachorro; uma fruta por uma espada.
O
rio ora lembrava a língua mansa de um cão ora o ventre triste de um cão,
ora o outro rio de aquoso pano sujo dos olhos de um cão.
Aquele
rio era como um cão sem plumas. Nada sabia da chuva azul, da fonte
cor-de-rosa, da água do copo de água, da água de cântaro, dos peixes de
água, da brisa na água.
Sabia dos caranguejos de lodo e ferrugem.
Sabia da lama como de uma mucosa. Devia saber dos povos. Sabia seguramente da mulher febril que habita as ostras.
Aquele rio jamais se abre aos peixes, ao brilho, à inquietação de faca que há nos peixes. Jamais se abre em peixes.
Canção do Exílio (Gonçalves Dias)
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha
terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à
noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde
canta o Sabiá.
Não
permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os
primores Que não encontro por cá; Sem qu’inda aviste as palmeiras, Onde
canta o Sabiá.
As Cismas do Destino (Augusto dos Anjos)
Recife.
Ponte Buarque de Macedo. Eu, indo em direção à casa do Agra, Assombrado
com a minha sombra magra, Pensava no Destino, e tinha medo!
Na
austera abóbada alta o fósforo alvo Das estrelas luzia… O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento, Copiava a polidez de um crânio
calvo.
Lembro-me
bem. A ponte era comprida, E a minha sombra enorme enchia a ponte, Como
uma pele de rinoceronte Estendida por toda a minha vida!
A
noite fecundava o ovo dos vícios Animais. Do carvão da treva imensa Caía
um ar danado de doença Sobre a cara geral dos edifícios!
Tal
uma horda feroz de cães famintos, Atravessando uma estação deserta,
Uivava dentro do eu, com a boca aberta, A matilha espantada dos
instintos!
Era
como se, na alma da cidade, Profundamente lúbrica e revolta, Mostrando
as carnes, uma besta solta Soltasse o berro da animalidade.
E
aprofundando o raciocínio obscuro, Eu vi, então, à luz de áureos
reflexos, O trabalho genésico dos sexos, Fazendo à noite os homens do
Futuro.
(Trecho de As Cismas do Destino, de Augusto dos Anjos).
As Pombas (Raimundo Correia)
Vai-se
a primeira pomba despertada… Vai-se outra mais… mais outra… enfim
dezenas De pombas vão-se dos pombais, apenas Raia sanguínea e fresca a
madrugada.
E à
tarde, quando a rígida nortada Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas, Voltam todas em bando e em
revoada.
Também dos corações onde abotoam, Os sonhos, um por um, céleres voam, Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam, Fogem… Mas aos pombais as pombas voltam, E eles aos corações não voltam mais.
Invenção de Orfeu (Jorge de Lima)
1.
Um barão assinalado sem brasão, sem gume e fama cumpre apenas o seu
fado: amar, louvar sua dama, dia e noite navegar, que é de aquém e de
além-mar a ilha que busca e amor que ama.
Nobre
apenas de memórias, vai lembrando de seus dias, dias que são as
histórias, histórias que são porfias de passados e futuros, naufrágios e
outros apuros, descobertas e alegrias.
Alegrias
descobertas ou mesmo achadas, lá vão a todas as naus alertas de vaia
mastreação, mastros que apoiam caminhos a países de outros vinhos. Está é
a ébria embarcação.
Barão
ébrio, mas barão, de manchas condecorado; entre o mar, o céu e o chão
fala sem ser escutado a peixes, homens e aves, bocas e bicos, com
chaves, e ele sem chaves na mão.
2. A ilha ninguém achou porque todos o sabíamos. Mesmo nos olhos havia uma clara geografia.
Mesmo nesse fim de mar qualquer ilha se encontrava, mesmo sem mar e sem fim, mesmo sem terra e sem mim.
Mesmo sem naus e sem rumos, mesmo sem vagas e areias, há sempre um copo de mar para um homem navegar.
Nem achada e nem não vista nem descrita nem viagem, há aventuras de partidas porém nunca acontecidas.
Chegados nunca chegamos eu e a ilha movediça. Móvel terra, céu incerto, mundo jamais descoberto.
Indícios de canibais, sinais de céu e sargaços, aqui um mundo escondido geme num búzio perdido.
Rosa-de-ventos na testa, maré rasa, aljofre, pérolas, domingos de pascoelas. E esse veleiro sem velas!
Afinal: ilha de praias. Quereis outros achamentos além dessas ventanias tão tristes, tão alegrias?
(Trecho de Invenção de Orfeu, de Jorge de Lima).
Fonte: Universia Brasil
http://sociedadedospoetasamigos.blogspot.com.br/2012/12/10-maiores-poemas-de-todos-os-tempos-da.html
Todos poemas belos e clássicos. Mas apesar de gostar, fico com Cecília Meireles. Bom dia, e Boas Festas!
ResponderExcluirGrande e eterna Cecília Meireles...
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