As latinhas de alumínio que Paulo Henrique,
9, tirava de dentro de um canal cheio de lixo no Recife viravam dinheiro para
comprar biscoito e salgadinho.
O menino fotografado submerso em lixo e água
suja, apenas com a cabeça para fora, diz que não vai mais catar latas, como
fazia desde os cinco anos de idade.
Mas o canal do Arruda, no pobre bairro
homônimo da zona norte do Recife, continua sendo o único local de lazer das
crianças da região.
Nesta semana, a rotina do garoto se tornou
conhecida depois que o "Jornal do Commercio" publicou sua história,
com foto na capa.
Nas margens do canal, os garotos empinam
pipa. Na manhã de ontem, o menino mirrado, tímido e monossilábico voava de um
lado para o outro sobre o canal, num balanço improvisado.
Um de seus amigos brincava com os pés
enfiados na lama suja. "Canal aqui é piscina", afirmou uma passante.
A visita de repórteres virou rotina por ali.
Ao meio-dia, os garotos correram para um dos barracos da favela para se verem
nos telejornais.
'QUERO SER POLÍCIA'
Na escola municipal onde Paulinho estuda, no
entanto, ninguém fez comentários. Ele disse ter entregado um exemplar do jornal
a uma professora, que não deu atenção.
Quando questionado se gostava de ir à escola,
o aluno da segunda série silenciou. Ele é torcedor do Sport, mas não sonha em
ser jogador de futebol. "Aqui é ruim porque não tem campo por perto, não
tem pracinha."
Acostumado à violência da favela, área de
tráfico de drogas, só tem um plano: "Quero ser polícia para pegar
bandido", afirma.
Ele não faz ideia de quem seja o prefeito do
Recife, o governador de Pernambuco nem a presidente do Brasil, mas sabe o que
pediria a eles. "Ia pedir uma casa. Aqui [no barraco] é um pouco
apertado."
Paulo Henrique vive com a mãe, faxineira, um
"paquera" dela e cinco irmãos. Todos dormem no mesmo ambiente, em uma
cama de casal e dois colchões de solteiro. O espaço abriga duas televisões, uma
geladeira, um fogão e um armário.
Ontem, a Prefeitura do Recife enviou
assistente social e psicóloga ao local. As mães das crianças foram orientadas a
procurar o conselho tutelar e a prefeitura, para renovarem o cadastro do Bolsa
Família --que não recebem desde 2008.
A prefeitura informou que faz a dragagem e a
capinação das margens do canal desde o início do ano. O projeto de urbanização
da área aguarda recursos federais.
Segundo a prefeitura, um conjunto
habitacional receberá parte das famílias da área e as demais devem ser
contempladas com unidades do Minha Casa, Minha Vida.
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